Título: Passo-a-passo das investigações
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 30/06/2005, País, p. A4

Conselho de Ética Apura ações incompatíveis com o mandato parlamentar. Abriu um processo contra o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) por quebra de decoro a pedido do PL. Foi no Conselho de Ética que aconteceram os principais depoimentos até agora. Além de Jefferson, que reafirmou as denúncias sobre o mensalão, depuseram a ex-secretária do publicitário Marcos Valério ¿ acusado de financiar o esquema ¿, Fernanda Karina Somaggio, que confirmou o estreito relacionamento do ex-patrão com a cúpula do PT e José Dirceu. Fernanda indicou caminhos para investigação, dando as datas e locais dos encontros para pagamento do mensalão. Dias antes, a deputada licenciada, Raquel Teixeira (PSDB-GO), denunciou uma proposta feita pelo líder do PL, Sandro Mabel, de pagamento mensal de R$ 30 mil para que ingressasse no PL. Mabel negou a denúncia. O deputado Miro Teixeira (PT) também se apresentou para depor. Confirmou ter sido avisado do esquema do mensalão, mas pouco acrescentou à investigação.

CPI DOS Correios Uma CPI tem o objetivo de encontrar indícios do envolvimento de parlamentares em atos ilícitos. A dos Correios foi instalada para apurar denúncias de pagamento de propina na estatal, mas por pressão da oposição, não vem se restringindo ao caso. Também está colhendo depoimento de pessoas supostamente ligadas ao mensalão. O ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, foi o primeiro a depor na comissão. Livrou Roberto Jefferson das suspeitas de ser o responsável pelo esquema da propina. Também afirmou que Sílvio Pereira, secretário-geral do PT, indicava petistas para as diretorias dos setores de maior recursos dos Correios. Um dos donos da empresa que fornecia material de saúde e informática para a estatal, Arthur Wascheck Neto, admitiu à CPI ser o responsável pelo pedido de gravação que deu início à crise. Afirmou que ordenou a filmagem para provar a corrupção de Marinho. Joel Santos Filho, que também prestou esclarecimentos à comissão, foi contratado por Wascheck para fazer o gravação. Apesar da tentativa do Planalto de manter a CPI restrita aos Correios, declarações de Jefferson dando conta que o mensalão era financiado por contratos irregulares com estatais forçaram a comissão a entrar no assunto. Foram convocados o publicitário Marcos Valério, a ex-secretários de sua empresa, e parlamentares que poderiam estar ligados ao esquema. Esses depoimentos ainda não aconteceram

É responsável pela investigação de denúncias contra deputados. Ouviu, sempre a portas fechadas, figuras importantes citadas por Roberto Jefferson como envolvidos no esquema de corrupção. O ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, esteve lá. Apenas negou qualquer participação no esquema e afirmou que soube do mensalão pelo JB. O depoimento da cúpula do PT, previsto para ontem, acabou não acontecendo. Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcelo Sereno, secretário de Comunicação do PT, faltaram alegando um mal-entendido. Só o presidente do partido, José Genoino, compareceu e negou ter repassado dinheiro de forma ilegal ao PTB, como acusou Jefferson. Tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, foi responsável por um dos depoimentos mais esclarecedores. Sugeriu que os R$ 4 milhões que o PT teria transferido ao PTB ainda estão nos cofres do partido. A ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina, também depôs na Corregedoria. Deu mais detalhes sobre a agenda de Valério. Os ministros Ciro Gomes e Walfrido Mares Guias admitiram ter sido avisados do mensalão. O deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), acusado por Jefferson de ter sido beneficiado pelo mensalão, também depôs. Ainda foram ouvidos o genro de Jefferson, Marcos Vinícius, o ex-diretor dos Correios Antônio Osório, o empresário Antônio Velasco e o ministro de Coordenação Política, Aldo Rebelo. Nenhum dos cinco trouxe novidades. O empresário Mauro Dutra, dono da empresa Novadata, fornecedora de tecnologia para os Correios, acusada de ter sido favorecida em licitações da estatal, afirmou que sua empresa disputou as licitações dos Correios por pregão eletrônico e ganhou de grandes empresas como HP, Itautec e IBM por ter oferecido o melhor preço. Informou que os três contratos que a Novadata mantém com os Correios correspondem a apenas 5% do que a estatal comprou em serviços de informática.