Título: Lula discute nomes e promete concluir reforma até amanhã
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 30/06/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - Em almoço ontem com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o senador José Sarney (PMDB-AP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve a oferta de quatro ministérios ao PMDB e avisou: pretende concluir até amanhã a reforma ministerial. - Até sexta-feira a reforma estará completa - corroborou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, ao deixar o o Planalto na noite de ontem.

As mudanças na Esplanada, conforme já havia antecipado o JB há três semanas, serão amplas e envolverão a troca no comando de pelo menos 10 pastas. O PMDB poderá ser contemplado com os ministérios das Cidades, Minas e Energia, Saúde e Integração Nacional. Com a ampliação de duas para quatro pastas, o partido passaria a manejar um Orçamento de cerca de R$ 70 bilhões.

No partido, o nome de Silas Rondeau, uma indicação de Sarney para o ministério das Minas e Energia é dado como certo. Os parlamentares do PMDB mineiro, senador Hélio Costa, e o deputado Saraiva Felipe também estão cotados para assumir uma vaga no novo ministério. Costa é uma opção para a Integração Nacional. Felipe poderá ir para a Saúde. Seria uma maneira de o Planalto agregar apoio do diretório mineiro, um dos maiores do PMDB.

O PP também deverá ser incorporado à Esplanada numa negociação que envolve o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE). Agradaria ao presidente o nome do deputado Delfim Neto (PP-SP), que já contribui de maneira informal com o governo no projeto de reduzir a zero o déficit nominal.

Se os nomes ainda podem mudar, os critérios já estão definidos. É certo que os novos ministros não poderão ser candidatos em 2006, uma vez que ficariam apenas nove meses no governo. Pela lei eleitoral, quem quiser disputar as eleições terá de se desincompatibilizar em abril.

A tendência é que a regra também se aplique aos ministros interessados em permanecer na Esplanada. Em conversas reservadas durante a semana com os ministros da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, e do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, Lula deu a entender que se eles quisessem continuar no cargo teriam de ficar no governo até o fim de 2006. Patrus sublimou a pretensão eleitoral. Disse que preferia ficar para poder tocar o Bolsa Família até o último dia de governo. Eduardo Campos, por seu turno, deve ser candidato.

Se houver exceção, fugiriam à regra os ministros da Integração Nacional, Ciro Gomes, a quem o presidente tem na mais alta conta, e o do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, que acumulará a atual tarefa com a função de coordenador político. Os dois deverão ser candidatos. Ciro ao governo do Rio, segundo informação da cúpula do PSB, e Wagner ao governo da Bahia. Se o ministério de Ciro entrar na cota do PMDB, ele poderá ser deslocado para outra pasta.

O ministério da Coordenação Política será mesmo extinto. A articulação com o Congresso, sob a batuta de Jaques Wagner, funcionará num sistema de colegiado, com a colaboração dos chamados ministros do núcleo duro do governo.

A maioria dos ministros com mandato parlamentar também retornam ao Congresso com o objetivo de reforçar a tropa de choque do governo à luz das CPIs. É o caso de Ricardo Berzoíni, do Trabalho e Eunício Oliveira, das Comunicações.

Sob o princípio do choque ético na Esplanada, também se preparam para deixar o governo ministro da Previdência, Romero Jucá, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, investigados pelo Supremo Tribunal Federal. Assume o BC, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal.

Pesou na decisão de Lula de ampliar o espaço do PMDB na Esplanada o fato de ele ter conseguido atrair o apoio da maioria do partido no Congresso: 19 dos 23 senadores e 52 dos 85 deputados do partido.

- As bancadas do PMDB no Congresso decidiram, por ampla, maioria, manifestar seu apoio à convocação feita por Lula, na última sexta-feira, de um pacto pela governabilidade, que inclui a participação do partido no governo, a elaboração de políticas públicas e a divisão de responsabilidade na gestão do país - informaram em nota.

Embora tenha dado como perdido o apoio por inteiro do PMDB, Lula ainda não desistiu de contar com a adesão de integrantes da ala oposicionista. A idéia de reforçar a sustentação no Congresso passa por duas conversas ao longo da semana com o presidente do diretório paulista, Orestes Quércia, e o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos.