Título: Empresas pedem ajuda contra o crime
Autor: Marco Antônio Martins
Fonte: Jornal do Brasil, 22/10/2004, Rio, p. A-13
Presidente da Firjan faz apelo a Lula em seu discurso de posse no Rio
O empresário Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira começou seu quarto mandato como presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan) com um desabafo: o Rio precisa combater a criminalidade. O empresário, que teve um filho resgatado de seqüestro em 1995, declarou sua apreensão a uma platéia de 200 pessoas - entre elas o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Em seu discurso de posse, Eduardo Eugênio disse que ''a violência está fora de controle'' e pediu uma ação coordenada pelo governo federal. - O Rio e o Brasil só vão crescer de forma sustentada quando puderem conciliar uma agenda ampla de reformas estruturais com medidas duras de combate ao crime - desabafou.
Eduardo Eugênio revelou a empresários, políticos e ao presidente Lula, que acompanhavam a sua posse, dados da violência no Rio durante o último ano. A governadora Rosinha Matheus não compareceu à cerimônia. Segundo o empresário, seis mil pessoas foram mortas em todo Estado. Além disso, 170 mil pessoas morreram em latrocínios.
- A cada dia, 18 pessoas foram assassinadas, o dobro da média brasileira. O problema não é recente. A deterioração da segurança é o resultado de décadas de omissão e conivência. Sem combate, a criminalidade cresceu em ousadia - explicou, lembrando denúncias de vendas de sentença e de candidatos a cargos públicos que respondem a processos criminais.
Lula reconheceu que a união entre os governos federal, estadual e municipal seria uma forma de resolver o problema da violência.
- O ministro Márcio Thomaz Bastos (da Justiça) não faz da segurança pública um carnaval. O papel dele é apresentar resultados. E isso tem ocorrido. O resultado não vai aparecer amanhã. É parte de um processo - disse o presidente.
A morte do traficante Irapuan David Lopes, o Gangan, pela Polícia Civil, e a operação da Polícia Federal em que 21 pessoas foram presas acusadas de enviar cocaína para a Europa, através do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, ambas na semana passada, foram consideradas importantes por Eduardo Eugênio, mas com algumas ressalvas.
- O problema é que tudo isso são gotas no oceano. A Operação Mãos Limpas na Itália também foi resultado da mesma indignação que toma conta de cariocas, fluminenses e brasileiros em geral. O que falta neste momento é uma ação coordenada e liderada pelo poder central - analisou o presidente da Firjan.
As críticas de Eduardo Eugênio fazem parte de discussões que vem preocupando empresários no Estado devido aos prejuízos causados com a violência. Um projeto com nove itens, entre eles, o controle de armas e a modernização da perícia, foi apresentado ao Ministério da Justiça, mas até agora não houve qualquer resposta sobre o documento. O desabafo do presidente da Firjan ocorreu no mesmo dia em que a Organização-Não Governamental Justiça Global denunciou nos Estados Unidos o número de mortes de civis no Rio durante o ano passado.
- Apesar de problemas, o governo do Estado vem trabalhando no sentido de aumentar ainda mais o número de turistas. Nesta cidade há problemas, mas que quando vistos com uma lente de aumento não condizem com a realidade - garantiu a governadora Rosinha Matheus, na abertura da feira da Associação Brasileira de Viagens, no Riocentro. O secretário de Segurança Pública em exercício, Marcelo Itagiba defendeu o governo do Estado.
- Queremos sim, ter apoio do Governo Federal. Principalmente no que diz respeito ao repasse de R$ 13 milhões previsto no início do ano para a segurança, que ainda não foi feito - disse.