Título: ''Prestação de contas começa na mentira''
Autor: Sérgio Pardelas
Fonte: Jornal do Brasil, 01/07/2005, País, p. A2
CONTAS DE CAMPANHA Jefferson chamou de ¿mentira¿ as prestações de contas de campanha eleitoral e disse ter trazido as contas dos integrantes da CPI à sessão. ¿Trouxe aqui, que peguei na Justiça Eleitoral, todas as prestações de contas, minha e dos senhores. É aí o princípio da mentira que a gente vive aqui. Não há, povo do Brasil, eleição de deputado federal que custe menos de R$ 1 milhão ou de R$ 1,5 milhão. Mas a média, aqui na Câmara, na prestação de contas é de R$ 100 mil. Não há eleição de senador que custe menos que 2 ou 3 milhões, mas a prestação de contas, a média é R$ 250 mil. Este processo começa na mentira e deságua no PC Farias, nos outros tesoureiros, e agora no Delúbio e no Valério¿
PT Jefferson insinuou que o PT, especificamente na derrota de José Genoino para o governo de São Paulo, tinha campanhas milionárias, que não eram representadas nas contas eleitorais oficiais. Citou inclusive a sua própria prestação de contas. ¿É de deixar a gente perplexo. Ou alguém tem dúvida que a campanha mais rica de 2002 foi a campanha do PT? A mais milionária, a mais poderosa de todo o Brasil, do Oiapoque ao Chuí? E as declarações da Justiça Eleitoral não traduzem a realidade. Nem a minha, porque é igual a dos senhores.¿
ABAFA DO PT O deputado acusou indiretamente o PT de tentar abafar as investigações da CPI ao prolongar as discussões sobre a quebra de sigilo do publicitário Marcos Valério. Segundo Jefferson, setores governistas estão traçando os mesmos passos que a tropa de choque do governo Fernando Collor de Melo. ¿Nessa inversão de papel que vivo hoje, vejo que muitos dos que ontem exorcizavam os fantasmas, agora se abraçam com eles. Só que agora não são mais os fantasmas do PC, são os fantasmas do Delúbio e do Marcos Valério.¿
ABIN Jefferson fez fortes ironias sobre a suposta incompetência da Abin, pelo envolvimento de um ex-agente, Jairo Martins, na gravação dos Correios. ¿A competência é tão grande que a Abin conseguiu que seus agentes filmassem um petequeiro, um leviano, apanhando R$ 3 mil num movimento de contratos de milhões (...) A Abin é apenas uma polícia política usada para constranger quem se opõe a certas figuras do governo.¿
VILÃO Com oratória dramática, Jefferson deixou claro que não seria acuado pelo interrogatório. ¿Não vim aqui mendigar em favor do meu mandato, já passei dele (...) Ninguém vai me botar de joelhos e de rabo entre as pernas, ninguém! Ninguém vai me acanalhar, ninguém. Não sou ator. Não faço aqui o papel do herói porque não sou. Não sou melhor que nenhum dos senhores. Sou igual. Não faço papel de vilão, porque não sou.¿
BANCO ESPÍRITO SANTO ¿No final de março deste ano, tinha um jantar na minha casa, com o líder José Múcio Monteiro (PTB-PE), eu e o tesoureiro do partido, Emerson Palmieri. As contas de campanha não fechavam de jeito nenhum, estava um caos no partido.
Falei com o Delúbio, ele me mandou, no início de abril, o Marcos Valério na sede do PTB, em Brasília. Ele me sugeriu que fizesse uma transferência de US$ 600 milhões de uma conta do IRB em um banco europeu (não lembro que país) para uma conta no Banco Espírito Santo, em Portugal. Eu liguei para o Genoino e falei: "Zé, esse cara é louco, ele fala como se dinheiro caísse do céu" . E o Genoino me respondeu: "Calma, Roberto, ele é um homem de confiança".
SAQUES NO BANCO RURAL Jefferson afirmou taxativamente que assessores dos deputados que recebiam o suposto ¿mensalão¿ faziam os saques diretamente da agência do Banco Rural em um shopping de Brasília. ¿A Abin foi incapaz de dizer ao governo, à Casa Civil, ao presidente que o senhor Marcos Valério, versão moderna e macaqueada do senhor PC Farias, sacava R$ 1 milhão por dia nas contas do Banco Rural. Ou sacava em Minas Gerais ou no prédio do banco no Brasília Shopping, no 9º andar, onde muitos assessores dos que recebem mensalão, que estão registrados na portaria, subiam até o escritório do banco para receber R$ 30 mil, 40 mil, às vezes 20 mil ou até R$ 60 mil."
BANCO DO BRASIL Além dos saques feitos por Valério no Banco Rural, que já foram identificados, Jefferson apontou a necessidade de verificar a movimentação financeira realizada no Banco do Brasil. ¿Tem de procurar o Banco do Brasil também, porque recordo que dos recursos que recebi do PT, 60% eram notas com etiquetas do Banco do Brasil.¿
REFORMA POLÍTICA O deputado gastou praticamente metade do tempo dispensado a ele, no início da sessão, para sugerir um modelo de reforma política. Criticou a proposta de financiamento público de campanha, o troca-troca partidário e até a suplência de senador. A expectativa dos parlamentares, no entanto, era que ele apresentasse provas das acusações que têm feito ou revelasse esquemas de corrupção nos Correios, tema da CPI. ¿São sugestões que o PTB traz para o debate porque essa comissão não vai ficar em coisa pequena, em um petequeiro leviano que ficou com R$ 3 mil.¿
FURNAS Sobre um suposto esquema de desvio de dinheiro a partir de Furnas Centrais Elétricas que lhe teria sido descrito pelo diretor de Engenharia da estatal, Dimas Fabiano Toledo, Jefferson reclamou de um nome de um diretor que o partido havia indicado. ¿O nome que sugerimos era técnico, a Dilma aprovou, a Sandra Cabral aprovou, mas a nomeação nunca saiu¿. Afirmou que ouviu do diretor que todos os meses há uma sobra de caixa de cerca de R$ 3 milhões de Furnas, montante que beneficiaria o PT nacional, o diretório mineiro, a diretoria da estatal e deputados que trocaram o PSDB por legendas da bancada governista.
JOSÉ DIRCEU Roberto Jefferson disse, em resposta ao senador Jefferson Peres (PDT-AM), que tudo o que tratou o fez com o ex-ministro José Dirceu. ¿Até de negócios de política e dos R$ 20 milhões, tratei com o Dirceu. A operação inteira de Furnas eu havia tratado com o Dirceu. Disse: `Zé, o cara ( Valério) é doido.¿ O deputado reafirmou que falou umas seis ou oito vezes com José Dirceu sobre o mensalão.