Título: Reféns reconhecem presidente
Autor: Olivia Hirsch
Fonte: Jornal do Brasil, 01/07/2005, Internacional, p. A8

WASHINGTON - ''Tenho 99% de certeza de que é ele'', garantiu o capitão da reserva da Marinha Donald Sharer, um dos reféns da embaixada americana em Teerã, sobre a foto que supostamente mostra o presidente eleito do Irã, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, ao lado de um homem com os olhos vendados durante o seqüestro, em 1979. A denúncia sobre a possível participação de Ahmadinejad no episódio fora feita um dia antes por uma agência de notícias iraniana, com sede em Londres. A Casa Branca prometeu averiguar.

- Depois da eleição vi uma foto recente em um jornal e pensei: Conheço esse cara... - disse Sharer, hoje com 64 anos, ao JB. - Minha recomendação é: melhor que o mundo preste atenção nele. É um homem anti-Ocidente, anti-EUA, cruel. Era, durante o sequestro, alguém com autoridade. A esperança é que se passaram 25 anos; talvez ele tenha mudado um pouco.

Sharer é um dos pelo menos cinco reféns que reconheceram Ahmadinejad como tendo participado do seqüestro à embaixada.

O coronel da reserva do Exército Charles Scott, de 73 anos anos, é outro. Ele alerta que o novo presidente iraniano é ''um terrorista'' e que figurava como um dos dois ou três principais líderes da operação.

- Logo que vi sua foto, sabia que era o bastardo - diz.

Scott recorda até hoje de um incidente no qual Ahmadinejad, que tinha na época 23 anos, repreendeu um guarda iraniano por ter permitido que ele e um amigo visitassem outro refém em uma cela separada. Segundo Scott, que entende farsi, Ahmadinejad teria dito ao segurança: ''Você não deveria deixar esses porcos fora de suas celas''. O coronel contou ter respondido com um gesto grosseiro, o que teria deixado o futuro presidente do Irã ''vermelho'' de raiva.

- Você não esquece as pessoas que fazem esse tipo de coisa com você, com sua família e com seu país - frisou outro ex-refém, o capitão da reserva da Marinha Bill Daugherty.

Na crise que teve início em 1979 - e levou Washington a romper relações com Teerã -, 52 americanos foram mantidos reféns por 444 dias.

A visão política conservadora de Ahmadinejad e seu passado como estudante radical durante a Revolução Islâmica são, de fato, conhecidos. No entanto, seu escritório nega qualquer participação do presidente eleito na crise. Fazem coro dois ex-integrantes do grupo que tomou a embaixada.

Abbas Abdi, hoje reformista, mas que na época ajudou a orquestrar o plano, afirmou ontem que Ahmadinejad ''não estava entre os que ocuparam o prédio depois da revolução''.

Mohsen Mirdamadi, outro líder da operação e ex-deputado reformista, deu declarações semelhantes:

- Nego estas informações. Ahmadinejad não era membro do grupo de estudantes radical que tomou a embaixada.

Desde sua vitória, autoridades dos EUA falaram pouco publicamente sobre o presidente eleito, apesar de terem acusado o processo eleitoral de fraudulento e injusto. Depois do reconhecimento por parte dos reféns, no entanto, a Casa Branca se viu obrigada a se pronunciar:

- As reportagens e declarações de vários ex-reféns americanos levantam muitas questões sobre o passado de Ahmadinejad - disse o porta-voz Scott McClellan. - As estamos levando muito a sério e investigando para melhor entender os fatos.

Já o presidente George Bush, em breves declarações antes da reunião do G-8 (as sete nações mais industrializadas do mundo e a Rússia), na Escócia, disse ''não ter informações'', mas estar confiante de que respostas serão encontradas. No entanto, fez questão de ressaltar que o primeiro teste para saber se o Ocidente poderá trabalhar com o governante ultraconservador serão as conversações sobre o programa nuclear do país. A declaração de Bush foi feita um dia depois de o sexto presidente eleito do Irã ter dito que o ''mundo inteiro'' será atingido por uma ''nova revolução islâmica'', impulsionada por sua vitória.

- Nossa posição é muito clara: os iranianos não devem ser capazes de desenvolver tecnologias que permitam o enriquecimento de urânio e que possibilitem, em última instância, a criação de uma arma nuclear - disse Bush.