Título: Para mercado, revisão do BC é realista
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 01/07/2005, Economia & Negócios, p. A17

Analistas de mercado avaliaram a revisão das projeções do Banco Central como uma visão ''mais realista'' do cenário da economia brasileira.

Nas entrelinhas do texto do BC, o mercado também antevê o fim do ciclo de aperto monetário a partir de setembro, ou mesmo já em agosto, com expectativa de quedas mensais de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros.

- É a desaceleração econômica que vai ditar o ritmo de queda dos juros. O BC não admite, mas quando perceber que atividade está fraquejando mais, ele já deve começar a cortar a taxa - afirmou Luis Fernando Lopes, economista-chefe do Banco Pátria.

Para Alex Agostini, da GRC Visão, o documento mostra que o BC reconhece que a política monetária ''não conseguiu fazer milagre''. Ou seja, ao elevar a projeção para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,5% para 5,8%, o BC sinaliza, na avaliação de Agostini, que considera uma inflação próxima de 6% como um fato ''aceitável''.

O analista da GRC Visão argumenta ainda que, para países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, mais importante que ficar preso à determinada meta inflacionária é manter uma trajetória de inflação descendente.

Para muitos no mercado, ao perseguir a meta anterior de 5,1% com a utilização de altas sucessivas da taxa de juros, o Banco Central ''errou a mão''. O resultado, que pode ser comprovado no próprio texto do BC, é a redução da estimativa de crescimento do PIB para este ano.

Mas segundo Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset Management, o aperto nos juros promovido pelo BC serviu para frear a demanda interna e, de fato, ''dirimiu as pressões inflacionárias''. Mas, antes de cogitar um processo de corte de juros, Penteado interpreta que o BC deve esperar que os núcleos do IPCA retrocedam mais ainda.

O movimento de apreciação do real diante do dólar também serviu para ajudar a conter a inflação. De acordo com cálculos do economista-chefe do Pátria, se hoje a cotação estivesse em R$ 2,65, patamar do final do ano passado, o BC precisaria manter a taxa Selic em torno de 22% para manter uma inflação da ordem de 6%.