Título: Brizola, o estadista da educação
Autor: Eliana Pedrosa
Fonte: Jornal do Brasil, 01/07/2005, Brasília, p. D2
Um ano após a sua morte, gostaria de reverenciar um dos mais lúcidos políticos que esse Brasil já conheceu: o ex-governador Leonel de Moura Brizola. E porque falo em lucidez. Porque o Brasil não é um país de lúcidos. Se o fosse, teria feito o maior investimento que qualquer nação séria tem que fazer: Educar seu povo.
Brizola pensava assim. Eu penso assim. Muita gente pensa assim. Candidatos em campanha falam muito em investir na educação. Mas, infelizmente, o que fica são discursos, nada mais.
Com Brizola não foi assim. Com Brizola foi diferente. Não é à-toa que o ex-governador é chamado de estadista da educação. Já na década de cinqüenta, jogava todos os recursos do Estado em ambiciosos programas de educação pública. Implantou mais de seis mil escolas em quatro anos de governo no Rio Grande do Sul. Brizola semeou a mais consistente das bandeiras políticas. Assegurar a educação para todos.
Em 1983 Brizola assumiu o governo do Rio de Janeiro e iniciou uma ação verdadeiramente maior e transformadora no campo da Educação, de amplitude e profundidade jamais alcançadas na história do país.
Escolas foram restauradas, a rede de ensino foi ampliada, além do intenso esforço de participação e aperfeiçoamento do magistério.
Mas o grande sonho estava para se realizar. Brizola deu o tom de seu governo: Educação integral para todas as crianças e adolescentes do estado.
Trouxe o professor Darcy Ribeiro, trouxe o arquiteto Oscar Niemeyer. Trouxe o sonho de formar brasileiros plenos. O sonho da igualdade.
Nasceram, então,os Centros Integrados de Educação Pública - Os CIEPs. Utopia ou algo perfeitamente possível?
Perfeitamente possível. Uma escola em tempo integral. Nela as crianças passariam o dia inteiro. Lá estudariam. Lá teriam alimentação balanceada, esporte, cultura e lazer. O transporte até a escola seria feitosem o tão complicado passe estudantil. Uniformizados, os meninos e meninas do Rio entrariam nos ônibus pela porta da frente.
Nos fins de semana, a escola aberta eservindo a comunidade com suas quadras de esporte, suas bibliotecas, seus teatros e seu complexo aquático.
Muitos foram contrários à idéia. Muitos criticaram o governador Brizola. Para que uma escola em tempo integral? Custa muito caro aos cofres públicos. Uma criança no CIEP custa 45 dólares ao mês. É muito caro. No sistema de turnos, custa a metade. E os meninos e meninas do Brasil ficam mesmo é nas ruas.
Ignorância e descaso.
Descaso e insensatez.
Egoísmo.
Afinal, a maioria daqueles que criticavam as ações do ex-governador não precisavam de escola integral. Podiam pagar por ela.
Essa gente não percebeu e não percebe que o nosso sistema educacional finge que ensina, finge que educa. Nossas crianças não aprendem, repetem o ano e, depois, abandonam a escola. Façamos as contas. O que é que custa mais caro?
Mas o governador Brizola fez 500 CIEPs e o sonho virou realidade. E não fez para esses que o criticaram. Fez para a população que precisava, para a periferia, para os de baixa renda ou renda nenhuma.
Brizola fez sua revolução no Rio de Janeiro!
Darcy Ribeiro disse: ''Tive muitas alegrias na vida. A maior delas, de conduzir o Programa Especial do Rio de Janeiro, devo a Leonel Brizola, um estadista da educação com a coragem de investir um bilhão e duzentos milhões de dólares em Educação''.
Pena que aqueles que o sucederam não deram continuidade ao projeto. Pena que o resto do país não copiou o projeto. Pena que o Brasil não se importa com os nossos jovens.
Perdemos mais de 20 anos.
Se tivéssemos acompanhado o governador Brizola no seu sonho, a verdadeira revolução já teria sido feita nesse país. Um povo educado produz mais, um povo educado cria mais.
Um povo educado vota melhor.
Um povo educado vota com a cabeça, não com o estômago.
O exemplo do governador Brizola deve ser seguido por todos aqueles que se preocupam com o presente e com o futuro desse país.
Eu, de minha parte, ainda aprendiz, tenho me espelhado no legado do ex-governador.
Tenho norteado minhas ações parlamentares para a educação e, creio como ele, que devemos ter o compromisso sagrado com a disseminação do conhecimento em todos os níveis e por todos os meios.