Título: Banco Rural é suspeito de remessas ilegais
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: Jornal do Brasil, 30/06/2005, Nacional, p. A6

O Banco Rural, apontado como caixa do mensalão, operou com laranjas para executar remessas de valores a paraísos fiscais. A informação consta do depoimento do doleiro Alberto Youssef, condenado a 7 anos de prisão sob acusação formal de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O relato de Youssef foi feito ao Ministério Público Federal no curso das investigações sobre o esquema Banestado - rombo de US$ 30 bilhões por meio de contas CC 5. Ele explicou que, entre 1997 e 2000, "contatava a mesa do Rural, em Belo Horizonte, e fazia as operações". Segundo Youssef, quem ocupava a chefia da mesa chamava-se Ronaldo. "Não me lembro do sobrenome, já faz muito tempo", disse. "Eu fazia as operações através das minhas contas-laranja." O doleiro disse que no Rural também tratou com José Augusto Salgado, que era o diretor da área internacional. Afirmou que "os diretores do banco tinham ciência de que seriam utilizadas contas-laranja para encobrir a transação com dólares". "Eles tinham conhecimento que as contas eram de empresas que logo em seguida iam desaparecer do mercado", insistiu Youssef. "Sabiam que eu utilizava contas de terceiros para fazer essas operações. Tanto é que repassavam para mim operações de vários clientes do Rural, clientes deles que tinham que colocar dinheiro lá fora."

O Rural foi citado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), denunciador do mensalão no Congresso. Uma offshore, Trade Link Bank, com endereço nas Ilhas Cayman, seria o braço do Rural no exterior. Procuradores americanos entregaram às autoridades brasileiras documentos que apontam fluxo de recursos da Trade Link para o Rural em uma conta, número 560-1, na agência Nova York do Banestado. Para o Rural International Bank, que faz parte do Sistema Financeiro Rural, foram transferidos US$ 57,19 milhões. Para Instituicion Financeira Externa (IFE) Banco (Rural Uruguai), US$ 10,58 milhões.

O doleiro declarou que mantinha vários contatos no Rural. "Desde o gerente da mesa de câmbio ao diretor internacional da área, que era o senhor José Roberto Salgado, e com o vice-presidente do banco, que era o sr. José Augusto."

A direção do Banco Rural rechaçou as denúncias do doleiro. Por meio de uma nota oficial, o banco sustentou que "o relacionamento do sr. Alberto Youssef com o Rural se restringiu somente ao fato de o mesmo ser cliente de crédito do Banco Rural - agência Londrina (PR)". "O Banco Rural não tinha conhecimento de que o sr. Youssef operava como doleiro e nunca manteve qualquer operação de emissão de valores para o exterior através deste senhor ou de suas empresas", diz a nota. "É inverídica a afirmação de que o sr. Youssef mantinha contatos freqüentes com altos executivos do banco. A confusão de nomes demonstrada por ele (doleiro) comprova a inexistência de tais contatos."

BARCELONA

O doleiro Antonio Claramunt, Toninho da Barcelona, apontado como elo de suposto pacto de corrupção no PT, pediu ontem à Justiça que autorize sua transferência para a 13.ª Delegacia de Polícia de São Paulo - prisão especial para detidos com curso superior. Barcelona é bacharel em Direito. Segundo os advogados Ricardo Sayeg e Mário Sayeg, o Código de Processo Penal garante a ele o recolhimento em quartel ou prisão especial porque não sofreu condenação definitiva. Os advogados argumentam que ele corre risco de vida na Penitenciária de Franco da Rocha, para onde foi transferido depois de ficar 10 meses no presídio de Guarulhos.