Título: Valério movimentou pelo menos R$40 mi em 2 anos, mostra relatório
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: Jornal do Brasil, 30/06/2005, Nacional, p. A6

Entre julho de 2003 e maio de 2005, o publicitário Marcos Valério de Souza movimentou pelo menos R$ 40 milhões, o dobro dos R$ 20,9 milhões sacados por ele em dinheiro no Banco Rural. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), obtido pelo Ministério Público Federal, será enviado hoje à CPI dos Correios, ao Congresso e à Polícia Federal com o mapeamento das movimentações financeiras de Valério e suas empresas.

O resultado indica cifras inimaginadas até agora. Uma alta fonte do governo confirmou que o montante das movimentações supera em muito os R$ 40 milhões. O dinheiro foi movimentado em contas de bancos diferentes, além do Rural e do Banco do Brasil, nos quais Valério fez os saques em dinheiro. Ele é sócio das agências de publicidade DNA e SMPB, titulares das contas de cinco ministérios e de algumas das principais empresas estatais, incluindo os Correios. Ele é investigado pelo Ministério Público e pela PF por suspeita de enriquecimento ilícito e de ser "o homem da mala" que supria recursos para pagamento do mensalão a parlamentares da base aliada.

A PF e o Ministério Público, porém, ainda não sabem se o dinheiro movimentado por Valério destinava-se ao mensalão ou a um esquema de provimento de fundos de caixa 2 para as campanhas eleitorais dos partidos, entre eles o PT. Já foram levantados indícios de que o esquema funcionava no governo Fernando Henrique com as mesmas características, sobretudo em 2001 e 2002. Agora serão analisadas as responsabilidades pela manutenção do esquema no atual governo.

Alguns elementos já colhidos apontam para pessoas ligadas ao ministro da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, responsável pelo controle dos gastos publicitários da administração direta e das estatais. A agenda da secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio registra vários encontros de Valério e Marcos Flora, ocupante do segundo maior posto na pasta de Gushiken. Mineiro, Flora assessorou o atual ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, na Prefeitura de Belo Horizonte. Serão investigadas também ligações de Valério com outros publicitários e agências que têm contas do governo e de estatais.

LEI

O trabalho do Coaf está sendo relativamente fácil porque desde 2003 a lei de combate à lavagem de dinheiro determina que as movimentações acima de R$ 100 mil sejam comunicadas pelo banco à Receita Federal. A próxima etapa é saber a origem do dinheiro movimentado pelo publicitário e a quem se destinaram os pagamentos.

A investigação será feita com cautela para não cometer injustiças contra terceiros, pois nem todo o dinheiro teria destino espúrio. A publicidade é considerada o meio mais fácil de desviar recursos públicos para partidos, pois o valor das campanhas tem margem alta de subjetividade. Sobre o custo da produção e inserção das publicidades a agência adiciona a comissão legal de 20% e sobrepreço a título de criação. É desse sobrepreço que seria extraída a fatia para o mensalão ou o caixa 2 dos partidos aliados.