Título: Sobrevivente presenciou execução
Autor: Júlio Lubianco e Maria Ganem
Fonte: Jornal do Brasil, 22/10/2004, Rio, p. A-14

Desde janeiro, a dona-de-casa Aldeci Belo da Silva, 42 anos, cumpre uma dolorosa rotina. Toda quinta-feira, sai de sua casa, na Favela Parque Alegria, no Caju, e vai até a Delegacia de Homicídios, no Centro, para saber do andamento do inquérito que apura a morte de seus dois filhos durante uma operação policial na comunidade. - Todo dia, quando eu vou deitar, me pergunto quem morreu primeiro. Na delegacia, só dizem que eu devo ter mais paciência - conta Aldeci, que tatuou os nomes dos filhos mortos no braço esquerdo.

No dia 6 de janeiro, Flávio, 19, Eduardo Moraes de Andrade, 17, e outros três jovens foram mortos por PMs. Os corpos foram encontrados no dia seguinte, em um lamaçal próximo a comunidade. Na versão dos policiais, eram todos traficantes que reagiram à prisão. Uma sexta vítima, no entanto, apesar de baleada, conseguiu sobreviver. William Borges dos Reis é a principal testemunha do caso e acusa os policiais de terem executado os cinco jovens. Além da Delegacia de Homicídios, a Corregedoria-Geral Unificada também apura o caso. Os policiais envolvidos continuam trabalhando normalmente.

- O que mais dói é ter que provar que os meus filhos eram inocentes - relata Aldeci, que tem dois netos, de sete e de um mês de idade, nascidos depois da morte dos filhos.

- Disseram que eu ia melhorar quando eles nascessem, mas só vejo piora - diz, sem conter as lágrimas.