Título: Ousado programa
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 03/07/2005, Internacional, p. A13

As denúncias de corrupção envolvendo membros do governo podem ter por objetivo derrubar o favoritismo de Michelle Bachelet, mas a candidata à presidência do Chile têm mostrado ter jogo de cintura. Além de apoiar uma investigação completa das acusações da direita, a ex-ministra da Defesa prometeu que se chegar ao La Moneda vai delimitar com mais clareza as regulamentações sobre contratos de serviços entre empresas estatais e privadas.

- Outro projeto de lei que faz sucesso é acabar com a permissão de que autoridades do governo tenham firmas privadas - conta a cientista política Stéphanie Alenda, da Universidade do Chile.

O especialista em governo e corrupção, Alfredo Rehren, lembra que o nome de Bachelet vem sendo citado pelos partidos opositores porque ela é candidata do governo à presidência, não porque esteja pessoalmente envolvida no escândalo da Codelco.

- Para 40% dos chilenos, a honestidade é a característica mais importante quando vão escolher em quem votar. Entre as eleitoras, 70% dizem que não votariam em alguém que seja corrupto. É importante que ela se mantenha fora da polêmica, porque as mulheres mostram grande simpatia à sua candidatura - diz.

O combate à corrupção não é a única bandeira eleitoral de Bachelet. Seu ousado programa de governo - elaborado por especialistas próximos a ela, liderados pelo ex-funcionário da chancelaria, Ricardo Lagos Weber, filho de Ricardo Lagos - inclui até a polêmica questão da saída da Bolívia para o mar. Se aprovado pelos outros partidos do bloco oficialista Concertación, Santiago promoverá uma discussão ''de todos os temas bilaterais, inclusive aqueles necessários para facilitar o acesso do nosso vizinho ao Pacífico''.

Nos últimos meses, La Paz vem intensificando este pedido, inclusive em órgãos internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA). A Bolívia rompeu relações com o Chile há mais de 27 anos, em março de 1978, quando fracassaram as negociações para obter uma saída para o mar pelo território do Norte chileno, que perdeu na Guerra do Pacífico (1879-1884).

Outra proposta é criar um espaço de integração econômica ''que una o Nordeste da Argentina, o Leste da Bolívia, o Sul do Peru e o Norte do Chile''. (S.M.)