Título: Música contra a pobreza na África
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/07/2005, Internacional, p. A15

Vinte anos depois do Live Aid original, roqueiros e seus súditos voltaram a se reunir ontem, em escala global, para ajudar a reduzir a miséria na África. Cerca de 1 milhão de pessoas se aglomeraram em torno de 10 palcos do Live 8 espalhados pelo mundo para assistir aos shows de artistas como Madonna, U2 e Pink Floyd. O objetivo do espetáculo é pressionar o G-8 - os sete países mais industrializados do mundo e a Rússia, que se reúnem quarta-feira na Escócia - a fazer mais pelas nações pobres africanas.

Enquanto a maratona de shows seguia nos Estados Unidos, Japão, África do Sul, Rússia, Canadá e diversas cidades européias, 200 mil pessoas vestidas de branco tomavam as ruas de Edimburgo, na Escócia, para pedir às oito nações mais ricas ajuda financeira aos países vitimados pela pobreza, dívida externa e doenças, especialmente na África.

- O G-8 deveria ouvir o que as pessoas estão dizendo em vez de chegar com palavras vazias na semana que vem - disse a professora Caroline O'Neil, na manifestação.

Organizados pelo músico Bob Geldof, cabeça do Live Aid de 1985, os shows foram marcados por discursos políticos: do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e de artistas como Brad Pitt. Em Londres, palco principal da festa, Geldof puxou os gritos de ''chega de desculpas'', dirigido aos membros do G-8.

- Mahatma Gandhi libertou um continente, Martin Luther King libertou um povo, Nelson Mandela libertou um país. Isso funciona. Eles vão nos ouvir - discursou o músico.

Em Londres, o pontapé inicial para os shows foi dado pelo ex-beatle Paul McCartney, com os versos ''it was 20 years ago today'' (''faz 20 anos hoje''), de Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band, uma alusão ao Live Aid original. Em seguida, subiram ao palco o engajado Bono e seu grupo, U2, para uma versão de It's a beautiful day especial para o evento.

- Nós não queremos caridade, queremos justiça - disse Bono durante o show.

Uma das atrações mais esperadas era a primeira reunião da formação clássica do Pink Floyd desde 1981, com David Gilmour e Roger Waters.

A edição deste ano do megaespetáculo foi uma versão ampliada do encontro de 1985, que arrecadou US$ 100 milhões para ajudar a erradicar a fome da Etiópia. Desta vez, a transmissão pela tevê atingiu 150 países, numa audiência estimada de 2 a 3 bilhões de pessoas, quase o dobro da original.

Em vez de assistencial, o foco foi político, com apelos para perdão de dívidas e leis comerciais mais favoráveis. Ainda assim, o milionário Bill Gates participou como um dos convidados, saudado por Geldof como ''o maior filantropo do mundo''. Além dos discursos, o especial usou como artifício imagens de crianças africanas desnutridas, projetadas durante os shows. Uma das crianças etíopes retratadas no especial de 85, Birhan Woldu voltou ao palco, agora com 24 anos e recém-formada graças ao auxílio financeiro do Live Aid.

Sob pressão dos apelos e protestos, a reunião do G-8 na Escócia durará três dias. O tema do encontro deste ano é o desenvolvimento da África e as mudanças climáticas no mundo.