Título: Além do Fato: Confiança no crescimento em 2005
Autor: Carlos Thadeu de Freitas Gomes
Fonte: Jornal do Brasil, 03/07/2005, Economia & Negócios, p. A18

O Banco Central finalmente decidiu interromper o ciclo de alta de juros. Nossa avaliação é que havia condições de parar antes, uma vez que os indicadores antecedentes demonstravam queda da inflação. Na prática o BC esperou todos os ruídos de curto prazo terminarem, o que demonstra uma característica míope de política monetária. Apesar de tudo, voltamos a ficar confiantes no crescimento em 2005. Salvo o comércio, que deve ter uma acomodação após a forte retomada ocorrida, o comportamento da indústria deve ser extremamente benéfico para os próximos meses. Estimamos crescimento de 0,51% para indústria em maio e 1,1% em junho. Se essa projeção se confirmar, a indústria poderá crescer 1,2% no segundo trimestre, abrindo espaço para retomada do PIB do ano. Nosso cenário básico assume variação de 0,9% do PIB no segundo trimestre e 2,95% em 2005. A principal hipótese subjacente é o comportamento benéfico dos juros futuros sobre a atividade ¿ a inversão da estrutura a termo tem sido um excelente termômetro futuro da produção industrial.

Nossa avaliação sobre a inflação tem sido benéfica desde que os indicadores antecedentes mostravam reduções expressivas nos índices de preço de atacado. Verificamos queda expressiva nos índices de atacado agrícola e industrial. A trajetória declinante é fundamentada na apreciação do real e na desaceleração das principais commodities metálicas. Portanto, entendemos que o cenário prospectivo para a inflação no varejo permite a queda dos juros antes do previsto (em agosto).

A questão é que a conjuntura atual passa por um choque positivo de preços de commodities (queda das principais cotações), e isso combinado com a apreciação da taxa de câmbio está proporcionando uma queda expressiva dos índices de preços. Este choque não tinha como ser antecipado pelo Banco Central, pois é resultado de eventos exógenos do mercado internacional.

Portanto, devemos atribuir papel limitado da participação da taxa de juros no atual processo de deflação dos preços ¿ no primeiro trimestre a apreciação do real e a desaceleração do nível de atividade não foram capazes de frear a escalada inflacionária.

Os indicadores antecedentes para maio e junho da produção industrial sugerem crescimento. Em um cenário de acomodação da demanda doméstica os setores ligados à exportação são os menos afetados, apesar de não demonstrarem o mesmo vigor de 2004. Nesse sentido, uma taxa de crescimento em 2005 de aproximadamente 3,2% para a indústria é razoável. Se isso é verdade, o crescimento do PIB em 2005 ficará ao redor de 3,0%.

Os riscos associados ao nosso cenário advêm da economia americana e mundial. O preço do petróleo impõe restrições sobre o crescimento da economia global e pode trazer vestígios de inflação. Outro fator importante diz respeito ao ciclo de aumento de juros da taxa básica americana.

*Chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central