Título: Como tornar a operação atrativa
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 03/07/2005, Economia & Negócios, p. A19
A um ano do início oficial da campanha presidencial, o balanço do microcrédito produtivo ainda é negativo. Do total de recursos liberados com o direcionamento de 2% do volume de depósitos à vista (R$ 1,3 bilhão), só R$ 600 milhões foram destinados ao microcrédito. Destes, apenas R$ 60 milhões chegaram ao setor produtivo. A expectativa é de que a nova lei leve mais recursos para o microcrédito produtivo e incentive os bancos aplicarem no negócio, atraídos por um limite mais alto e uma taxa de juros também mais alta (4%).
- Se olhar com lupa, o microcrédito lançado pelo governo acabou direcionado a operações consignadas (com desconto em folha de pagamento ou benefício do INSS) - diz Manuel Thedim. - Não que a bancarização da população a o acesso a crédito das pessoas seja ruim, mas houve uma inversão de prioridades. O crédito produtivo é importante porque induz uma geração de renda futura.
Ricardo Leporaci teve acesso a um financiamento de microcrédito há quatro anos, no valor de R$ 900. Ele começava a organizar um curso de informática na Abolição, Zona Norte, e precisava comprar um computador e uma impressora.
- Foi naquele momento que eu deixei a informalidade. Dizem que ser informal é bom, mas não é, porque limita o crescimento da empresa e não deixa você disputar mercado com a concorrência - diz.
Hoje, Ricardo está no sexto financiamento, no valor de R$ 10 mil com a mesma Riocred. O seu negócio também se expandiu. Além da escola, ele montou um cyber café e um bureau de impressão. O faturamento, nesse tempo, dobrou e ele vai contratar três funcionários para a RR Leporaci. A taxa da operação é de 3,6% ao mês.
- Não acho caro porque tenho acesso ao dinheiro. Conseguir empréstimo em banco é para megaempresário - opina.
A Riocred é uma ONG que foi comprada pela Fininvest, que hoje pertence ao Unibanco. O banco gerencia o microcrédito por meio da subsidiária Microinvest, que tem uma carteira de R$ 6,5 milhões nessas operações. Cerca de 90% dos tomadores são informais.
- Quando se entra em um mercado pioneiro, não se pode colher resultados no curto prazo. A maturação desse investimento não virá antes de dois anos - analisa Carlos Ximenes de Melo.
O Unibanco é um dos três únicos bancos privados a operar no segmento. Com o avanço do mercado, a expectativa é de que as entidades de crédito ganhem profissionalismo para operar em associação com bancos. Soma-se a isso, a atuação do Sebrae como avalista, o que está em estudo na entidade.
- Os bancos não entraram na operação porque não têm vocação. Mas estão descobrindo a rede de organizações de microcrédito, o que pode ajudar a melhorar o acesso ao crédito - opina o analista da unidade de acesso a serviços de financiamento do Sebrae, Eli Moreno.