Título: O telhado de vidro do PTB
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 04/07/2005, País, p. A5

Mais da metade dos parlamentares do PTB, mais especificamente 55,3%, tem ficha criminal, ou já foi processado, no Supremo Tribunal Federal. As ações incluem sonegação, peculato, falsificação e desvio de verbas. O partido do deputado Roberto Jefferson, que faz uma série de denúncias contra o governo do PT, tem 47 das 513 cadeiras de deputados federais na Câmara. Um dos deputados do PTB é Silas Câmara (AM). Ele foi investigado por envolvimento com o narcotráfico, contrabando, falsificação de dólares e dupla identidade. Silas foi também acusado por ex-funcionários de embolsar parte dos salários na Câmara. Na sexta-feira, sua assessoria informou que o deputado estava no interior do Amazonas, incomunicável.

Engrossam as fileiras do PTB, o deputado Jackson Barreto (SE), réu em três ações penais no STF por peculato - apropriar-se de dinheiro do governo. Ele responde ainda por desvio de verbas. O parlamentar acusa o Ministério Público (MP), os adversários políticos e ''a elite'' de seu Estado pelo número de ações que responde.

- Todas as ações do Ministério Público são viciadas. Eram ações que pareciam coisa de máfia - diz Jackson Barreto.

Outro que culpa o MP é o deputado Alex Canziani (PR), também indiciado por peculato. Segundo Canziani, é uma denúncia de distribuição de marmitas durante a campanha, em 1998, que envolveu vários parlamentares de seu Estado.

- Apresentei a nota fiscal da empresa que forneceu a comida e a testemunha disse na Polícia Federal que foi pressionada pelos promotores - diz Canziani.

Um dos caciques do PTB é o deputado Luiz Antônio Fleury Filho, ex-governador de São Paulo. Foi no mandato dele que 111 presos foram mortos pela PM em 1992. Dez anos após o massacre, Fleury endossou a decisão de sua polícia. No STF, consta ação de improbidade administrativa, por outro motivo, e inquérito arquivado sobre crime contra o sistema financeiro. Os assessores do parlamentar informam que Fleury está ''descansando de cirurgia'' e não deve falar.

O próprio Roberto Jefferson - ex-defensor do consumidor no extinto programa de televisão O Povo na TV - agora vem diante das câmeras assumir que recebeu R$ 4 milhões do PT sem declarar à Justiça Eleitoral. Jefferson responde a dois inquéritos por calúnia, injúria e difamação no STF, de autoria de parlamentares acusados por ele de distribuir o mensalão. A concorrida agenda de Jefferson não permitiu que ele se pronunciasse na sexta-feira sobre a sonegação assumida.

O deputado João Lyra (AL) foi acusado pelo governador Ronaldo Lessa (PDT) de ser o patrocinador do mensalão no Estado, pagando juízes que estariam dando sentenças sob encomenda. A assessoria de Lyra atribui a acusação à revolta do governador com a decisão judicial que o tornou inelegível por abuso do poder.

- É retaliação política - diz o assessor de Lyra.

O deputado Ary Kara (SP) responde a ação por sonegação fiscal no STF. A Justiça Federal determinou a quebra de sigilo bancário de Ary. Ele é investigado por patrimônio incompatível com os rendimentos. Na sexta-feira, Ary não retornou telefonema.

Também do PTB, o deputado José Chaves (PE) foi responsável pela indicação de Maurício Marinho para os Correios. Ex-chefe do Departamento de Contratações, Marinho foi filmado embolsando propina e acabou revelando o esquema de desvio de verbas públicas dentro das estatais, em favor dos partidos. Na fita dos Correios, Marinho disse que agia em favor do PTB.

O deputado Airton Roveda (PR) montou uma estrutura para retirar areia dentro de assentamento da reforma agrária, na divisa do Distrito Federal com Goiás.

No STF, nenhum parlamentar do PTB foi julgado culpado pelos crimes. Quando não são arquivados, os inquéritos e ações prescrevem. Um dos beneficiários da prescrição é Jackson Barreto.

- Em todas as ações, fui absolvido - comemora Jackson.