Título: Deputado nega envolvimento sexual à polícia
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 22/10/2004, Brasília, p. D-3

Foram quase duas horas e meia de depoimento. Benício Tavares conseguiu despistar a imprensa e compareceu às 8h na Corregedoria Geral da Polícia Civil, onde foi ouvido pelo corregedor-adjunto, delegado Pedro Júlio. Negou qualquer envolvimento sexual com mulheres durante os cinco dias em que permaneceu a bordo do iate Amazonian, no Rio Negro (AM), e reafirmou que não sabia de prostituição de menores no barco. Na primeira versão de Benício, dada durante um discurso na Câmara Legislativa no início do mês, ele não deixou claro se havia deixado o iate antes ou depois das 17 prostitutas saírem. Na época, ele contou que deixou o Amazonian em uma canoa. Alguns distritais afirmaram que ele teria dito que saiu do iate antes da chegada a Barcellos.

Porém ontem, para a polícia, Benício revelou que ele, seu chefe de gabinete, Randal Mendes, e o advogado Marco Antônio Etiel subiram no barco em Manaus (AM), na noite do dia 17 e, como ele estava cansado, foi direto para sua cabine. As 17 meninas teriam embarcado alguns metros depois, convidadas por pescadores paulistas. Benício garantiu ao delegado que pediu para o organizador do passeio, Flávio Talmelli, e o dono do barco, José da Silva Júnior, para voltar ao porto em Manaus. Como já estavam longe de lá, os dois disseram que embarcariam as moças no próximo barco de carreira (que faz transporte até Barcellos). Apenas no segundo dia, 12 moças deixaram o Amazonian. Sem espaço no outro barco, cinco permaneceram a bordo até Barcellos, onde chegaram horas depois. Logo após, as cinco meninas embarcaram no Princesa Laura, que afundou no dia 19 - todas morreram.

Após a passagem por Barcellos, eles voltaram à pescaria. ''Sem clima'' para pescar, ele ficou apenas mais dois dias no iate. Pegou uma voadeira de volta para Barcellos dia 22, de onde voltou para Brasília.

De acordo com a delegada maria das Graças Silva, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente em Manaus, quatro meninas - duas menores de idade - confirmaram terem feito programa com o distrital. Disseram à delegada que Benício trazia uma mala de dinheiro.

- Era uma mala com uma sonda urinária - desmentiu o advogado do deputado, Jason Barbosa.

No final da tarde de ontem, Benício entregou sua defesa ao corregedor da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PMDB). No documento de 41 páginas, os advogados tentam desclassificar a denúncia de Augusto Carvalho (PPS) sobre o caso, afirmando que são baseados em ''recortes de jornais''. E pede ainda total sigilo das investigações que serão feitas por Lima.