Título: Benício volta em meio a protestos
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 22/10/2004, Brasília, p. D-3

Oposição faz duras críticas ao retorno antecipado de deputado à Presidência da Câmara Legislativa

Após passar mais de duas semanas longe da Câmara Legislativa, o deputado Benício Tavares (PMDB) voltou ontem à presidência da Casa. Ele decidiu retomar os trabalhos antes mesmo de expirar sua segunda licença médica, válida até segunda-feira. Em plenário, Benício rebateu colocações dos colegas e disse que deixar o cargo era assumir culpa sobre o que não cometeu. E tentou parecer à vontade novamente na mesa. No entanto, não houve clima para votação. Peniel Pacheco (PSB) foi o primeiro a pedir a palavra e disse a Benício que sua renúncia à presidência era essencial para garantir que a imagem da Casa não ficasse correlacionada às investigações judiciais. Chico Vigilante (PT) acusou-o de uma ''missão não-legislativa'' no Amazonas, da qual, segundo o distrital, muitos colegas sequer sabiam.

- Hoje, os olhos do País não estão voltados ao deputado Benício Tavares, mas ao presidente da Câmara Legislativa. Cabe ao senhor responder por essa chamada pescaria, e não a Casa - disse, defendendo renúncia.

Benício justificou sua decisão de voltar dizendo que ''não gostou de ficar em casa sem poder se defender dos ataques dos colegas''.

- Não aceito culpa e não vou passar recibo. Fui eleito com 26 mil votos e não saio da presidência enquanto tiver o apoio da minha bancada - reiterou.

Benício seguiu orientação de seus advogados e só retornou à Casa após depoimento na Corregedoria Geral da Polícia Civil, ontem de manhã, e depois de entregar a defesa à corregedoria da Câmara. Ele chegou a brincar com o fato de estar sendo acusado de praticar sexo com oito garotas em 15 horas.

- Se for assim, acho que vou até abrir uma loja para dar receitas ensinando cabocos (sic) a dar mais firmes com suas mulheres - disse.

O comentário deixou Arlete Sampaio (PT) irritada.

- Não nos interessa esse debate machista de quem é mais viril. Queremos saber se o senhor sabia ou não da existência de exploração sexual de menores dentro do iate - indagou.

Justificando que já havia ''falado demais'', Benício não respondeu. A líder do PT protocolou então um pedido à Mesa Diretora pedindo o afastamento definitivo de Benício do cargo.

- Quando conversamos na sua casa [no dia 7 deste mês, em reunião com a bancada petista]o senhor prometeu que ficaria afastado. Por conta disso, na época, retiramos o requerimento pedindo sua saída - disse Arlete, pouco antes de deixar o plenário acompanhada dos petistas Chico Leite, Chico Vigilante e Chico Floresta, em protesto.

Dos poucos que restaram, Benício recebeu o apoio de Vigão (PP) e Odilon Aires (PMDB), que deram boas-vindas. Odilon pediu igualdade no tratamento dado ao distrital:

- Temos outros deputados aqui nesta Casa denunciados por quebra de decoro parlamentar. A própria CPMI do Congresso [da exploração sexual]não conseguiu indicar um vice-governador, agora querem puxar para cá? Aqui não!

Encerrada a sessão, os líderes partidários tiveram uma rápida reunião no cafezinho do plenário. Discutiram a legalidade da volta do presidente. Na saída, Benício disse considerar ''natural'' tantos questionamentos sobre seu retorno.

- Dentro do processo democrático, as pessoas defendem suas opiniões e nós defendemos as nossas.