Título: Embaixador egípcio é seqüestrado em Bagdá
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/07/2005, Internacional, p. A8
O embaixador do Egito Ihab al-Sherif foi seqüestrado este fim de semana no Iraque, em uma onda de violência no país que deixou mais de 20 policiais mortos em 24 horas. Al-Sherif, de 51 anos, é o diplomata estrangeiro de mais alto escalão seqüestrado em solo iraquiano desde a queda do regime de Saddam Hussein, em abril de 2003.
O seqüestro foi confirmado ontem por Hani Khallaf, encarregado dos Assuntos Árabes da chancelaria egípcia. O chefe da missão diplomática egípica em Bagdá estava desaparecido desde sábado.
- O Egito espera que os responsáveis por seu desaparecimento o tratem como um patriota e um defensor da causa árabe - disse Khallaf.
O crime aconteceu quando o diplomata caminhava por uma rua comercial de Bagdá. Testemunhas contaram que al-Sherif foi agredido com uma pistola e forçado a entrar na mala de um carro aos gritos de ''espião americano!''.
O incidente foi apenas uma das cenas de violência que marcaram o fim de semana no país. Ontem pela manhã, dois policiais morreram na explosão de um carro-bomba em Al Riad, 250 km ao norte de Bagdá. No sábado, mais de 30 pessoas, entre elas cerca de 20 policiais, morreram em diversos ataques em todo o país.
O atentado tinha como alvo o chefe de polícia da cidade, Imad Nur Eddin, que não estava em seu veículo no momento da explosão. Ainda ontem, um membro do partido xiita do Conselho Supremo da Revolução Islâmica no Iraque (CSRII), Abdel Kazem Abdala, foi assassinado em Bagdá. O ministro da Indústria e Recursos Minerais, Usama al Najafi, escapou de um atentado na capital.
Em meio à violência, o primeiro-ministro iraquiano, Ibrahim al Jaafari, afirmou que seu país combate o terrorismo em nome do mundo inteiro e que merece ser ''apoiado financeiramente pela comunidade internacional''.
Desde que os Estados Unidos entregaram o poder a um governo provisório iraquiano, há um ano, mais de 10 mil civis morreram em conseqüência de ataques, de acordo com a organização não-governamental Iraq Body Count.
O governo iraquiano informou ontem estar disposto a negociar com os rebeldes que cometeram atos de violência contra os exércitos estrangeiros até antes de janeiro, por considerar essas tropas forças de ocupação.
- Do ponto de vista jurídico, estas forças entraram no Iraque sem a cobertura legal internacional e, por isso, deviam deixar o país - afirmou Laith Kuba, porta-voz do primeiro-ministro Ibrahim Al-Jafari. - Depois das eleições do Parlamento, achamos que esses grupos podem concretizar seu objetivo de fazer essas forças saírem rapidamente do Iraque através do processo político. As portas estão abertas para eles - acrescentou.
Kuba afirmou também que ante a multiplicação de erros por parte das forças americanas no Iraque, que custam a vida de inúmeros civis, Al-Jafari decidiu discutir o tema com as autoridades americanas, ''a fim de que sejam adotadas medidas firmes para reduzir esse tipo de incidente''.
O secretário de Justiça americana, Alberto Gonzales, chegou ontem a Bagdá para sua primeira visita ao Iraque, durante a qual se reunirá com americanos e iraquianos.