Título: Caracas tenta conquistar vizinhos
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/07/2005, Internacional, p. 12

A Venezuela, o quinto maior exportador de petróleo do mundo, está dando a Cuba um papel importante na venda de óleo cru a preços baixos a países do Caribe, em uma operação que os críticos vêem como um esforço para comprar apoio regional através de petróleo barato.

Caracas planeja armazenar e possivelmente refinar seu petróleo em Cuba, para redistribuir a outros países por meio de um programa - o Petrocaribe - que visa a reduzir os custos para os vizinhos. Os planos venezuelanos são armazenar petróleo em Matanza, Cuba, e possivelmente retomar a refinaria de Cienfuegos, também na ilha. Ontem, Chávez anunciou ainda que pretende refinar petróleo pesado na refinaria que será construída em Pernambuco, no Brasil. O projeto implica na construção de uma planta refinadora com capacidade de cerca de 200 mil barris de petróleo por dia.

- Cuba vai administrar nossas operações no Caribe - afirmou o ministro do Petróleo da Venezuela, Rafael Ramirez.

A Petróleos de Venezuela SA (PVZ.YY) inaugurou a matriz do escritório da Petrocaribe em Cuba no início deste ano.

Na quarta-feira, 14 países caribenhos assinaram o acordo de fornecimento, que oferece financiamentos a longo prazo com taxa de juros de 1% a 2% para venda de petróleo. O acordo permite inclusive que estas nações paguem pelo petróleo com produtos agrícolas, como banana e açúcar.

- Podemos exportar feijão a eles como forma de pagamento - disse o presidente dominicano, Leonel Fernandez, na quinta-feira, após voltar de uma conferência sobre a Petrocaribe, na Venezuela.

No encontro, 14 dos 16 países presentes aderiram ao programa - apenas Trinidad e Tobago e Barbados afirmaram que precisam de mais tempo para estudar as cláusulas. Trinidad, que também exporta petróleo para o Caribe, expressou a preocupação de que o acordo possa erodir seu mercado.

Com os 14 membros, a Venezuela aumentará as vendas de petróleo com desconto para a região para aproximadamente 200 mil barris por dia. A Petrocaribe já fornece 98 mil barris por dia para Cuba, 50 mil para a República Dominicana e 14 mil para a Jamaica.

Caracas chegou a ponto de oferecer transportar o petróleo em tanques da PDVSA, a estatal do país, a preço de custo. Segundo Ramirez, o baixo custo do financiamento e do transporte vai reduzir os preços a até US$ 6 o barril para os países que fazem parte do acordo.

Críticos afirmam que a Venezuela está querendo comprar apoio regional com petróleo diante de um crescente acirramento da relação do país com os Estados Unidos.

Ramirez minimizou tais preocupações, afirmando que o acordo não requer que os países membros dêem à Venezuela apoio político em grupos regionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA).

- É muito bom que o encontro (da Petrocaribe) tenha sido realizado depois da reunião da OEA para evitar qualquer confusão em relação a nossas intenções - disse Ramirez.

O ministro acusou os EUA de pressionarem os países do Caribe a desistir do tratado por meio de uma carta, enviada depois do encontro, que descrevia a Venezuela como um país autoritário. A embaixada dos EUA rejeitou comentar o caso.