Título: Rio festeja memória de João Paulo II
Autor: camilla antunes
Fonte: Jornal do Brasil, 04/07/2005, Rio, p. A13

A imagem do papa João Paulo II descendo do avião no Brasil, pela primeira vez, há exatos 25 anos, está gravada na mente de milhões de brasileiros que o acompanharam durante sua estadia no país, onde visitou 14 cidades em 13 dias. O famoso beijo papal no solo de concreto da base aérea de Brasília ainda emociona católicos e admiradores do sacerdote, que faleceu em abril deste ano. Ontem, em comemoração aos 25 anos da ilustre visita, o cardeal arcebispo do Rio, dom Eusébio Scheid lembrou, em missa solene, momentos em que o papa esteve na cidade. - A visita do papa ao Rio trouxe muita alegria e felicidade para todos os cariocas - afirmou o cardeal, no programa Santa Missa, da Arquidiocese do Rio, na TV Educativa.

No Rio, Karol Wojtila esteve na favela do Vidigal e rezou missa no Maracanã, onde ordenou 74 novos sacerdotes. O padre Manoel Manangão, vigário da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rocinha, um dos dois cariocas ordenados por João Paulo II em 1980, lembra com fascínio do momento em que o encontrou no Maracanã.

- Fiquei deslumbrado quando vi o papa pela primeira vez. Senti uma imensa responsabilidade ao receber das mãos dele a missão sacerdotal - conta o padre Manangão.

O sacerdote recorda com carinho o momento em que João Paulo II abraçou todos os ordenados depois da missa. Para cada um deles, ele disse uma palavra diferente.

- Quando me abraçou, ele desejou coragem. Depois, durante uma conversa com outro ordenado, descobri que ele o desejou força. Por fim, chegamos a conclusão de que para cada um ele disse uma palavra diferente em português.

O arcebispo emérito do Rio, dom Eugênio Salles, rezou missa ontem pela manhã, na Favela do Vidigal, onde foi exibida uma réplica do anel doado por Karol Wojtila, em 1980, para todos os fiéis da comunidade. Na época, os barracos receberam algumas mãos de tinta e apenas 200 moradores tiveram a permissão para ficar nas ruas. Impressionado com a pobreza do local, o papa doou um de seus anéis a um padre que o acompanhava e ordenou que fosse destinado aos moradores da favela. O original está guardado no Museu da Arquidiocese.

- O Vidigal foi um dos pontos altos da primeira visita do papa ao Brasil. Lá ele fez uma síntese de todos os discursos que fez no país. A passagem provocou um resgate da religiosidade e trouxe muita alegria para os cariocas - comemorou dom Eugênio, que acompanhou de perto a trajetória do papa.

A aposentada Lúcia Marins também lembrou com emoção a visita de João Paulo II ao Rio. Ela acompanhou pela televisão todos os passos do papa peregrino. De acordo com Lúcia, todos ficaram muito admirados com a simplicidade e devoção do recém-consagrado papa.

- Naquela época, ainda não tínhamos idéia de como seria sua trajetória de luta contra as injustiças no mundo. João Paulo II foi um grande exemplo de solidariedade para todos nós - disse a aposentada durante a missa realizada na manhã de ontem na Igreja do Apóstolo São Pedro.

As comemorações começaram sexta-feira, na sede da Arquidiocese do Rio, com homilia de Eusébio Oscar Scheid, do padre Manangão e do padre Silas. Eles celebraram a primeira missa em ação de graças pelos seus 25 anos de ordenação sacerdotal, recebida pela imposição das mãos do Papa João Paulo II na missa solene no estádio do Maracanã, celebrada naquela tarde histórica.