Título: Escândalos acirram disputa no PT
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 04/07/2005, Brasília, p. D1
A disputa no Processo de Eleições Diretas (PED) no DF, que escolherá o novo presidente regional do Partido dos Trabalhadores, promete ser acirrada. As últimas denúncias de que o PT teria feito um empréstimo de R$ 2,4 milhões avalizado pelo publicitário Marcos Valério Souza - homem apontado como operador de mensalão no Congresso Nacional - atingem em cheio os mais importantes nomes do chamado Campo Majoritário do partido, como Delúbio Soares e o próprio presidente nacional, José Genoíno. Com a crise a cada dia mais agravada, as alas de esquerda concentram forças para ganhar espaço no partido e fazer do processo um ensaio para uma possível vitória nas prévias, que escolherão o candidato petista ao GDF para as eleições de 2006. São sete nomes na corrida pelo PED, que será definido no dia 18 de setembro. Mas o grande embate promete acontecer entre os candidatos do Campo Majoritário, Raimundo Júnior, e da União das Forças de Esquerda, Chico Machado. Júnior é integrande da principal corrente do campo majoritário, a Articulação, da qual também fazem parte importantes figuras nacionais, como o deputado federal José Dirceu (SP). No DF, o grupo que reúne as tendências mais moderadas, responde por cerca de 40% dos 25 mil filiados petistas.
Apoiado pelo presidente do Banco Popular do Brasil, Geraldo Magela, de quem foi coordenador de campanha ao Palácio do Buriti em 2002, Júnior, conta ainda com o apoio dos deputados federais Sigmaringa Seixas e Wasny de Roure, e dos distritais Chico Vigilante, Érika Kokay e Chico Floresta.
Chico Machado pertence ao Movimento pela Reafirmação do Socialismo (MRS), mesma tendência do deputado distrital Paulo Tadeu. A campanha de Machado pela direção do PT também é apoiada pelos distritais Arlete Sampaio e Chico Leite, pela deputado federal Maninha e pelo senador Cristovam Buarque.
- Infelizmente, o envolvimento do Campo Majoritário na crise abre uma discussão sobre construção partidária. Isso tudo mostra a necessidade de um ajuste de contas interno sobre essa situação - afirma Machado.
Entusiasta da campanha de Machado, Chico Leite acredita que o agravamento da crise política no Planalto pode ainda trazer para o lado dos esquerdistas importantes apoios, como o do atual presidente do PT-DF, Wilmar Lacerda, integrante da Articulação, e do secretário de Organização, Hélio José. A aliança poderá ainda se repetir na escolha do representante das esquerdas às prévias. Dentre os que devem concorrer pela ala estão Arlete Sampaio, Maninha e o próprio ChicoLeite.
- Nesta eleição, os petistas históricos vão dizer à direção nacional que não quer alianças com as elites - diz o distrital.
Esta semana, Leite e Vigilante trocaram farpas via imprensa. O mote foi justamente o possível ''encolhimento'' do Campo Majoritário em todo o País, na avaliação de Leite. Vigilante disse que o promotor de Justiça licenciado, filiado ao PT no ano passado, quando deixou o PCdoB, não teria ''habilitação para ditar regras''.
- O patrimônio da ética é do partido, e não deste ou daquele militante - afirma Vigilante.
Integrante da Articulação, Vigilante afirma que a chamada esquerda não pode entrar no caminho das duras críticas pois, onde optaram por este caminho - como nas prefeituras de Belém (PA), Porto Alegre (RS) e Imperatriz (MA) - foram atacados.
- Também nem podem falar da política de alianças. O vice-líder de Luizianne [Lins, prefeita de Fortaleza (CE)]na Assembléia é do PSDB, por exemplo. Aqui no DF, Cristovam quando era governador fez aliança com José Edmar e Carlos Xavier [distritais então filiados ao partido de Joaquim Roriz]- aponta Vigilante.
Ao lado de Chico Machado e de Raimundo Júnior, concorrem em setembro pela presidência do PT-DF: Antônio Sabino, presidente do diretório de Taguatinga, integrante do Movimento Socialista; Cláudio Santana, funcionário público federal, da corrente O Trabalho (OT); Chico Pereira, candidato avulso da OT, egresso do Campo Majoritário; Pedro Rodrigues, líder comunitário de Santa Maria, desligado de correntes; e Carlos Roberto de Oliveira, independente.