Título: Exportação concentrada em bens primários deixa país vulnerável
Autor: Cristina Borges Guimarães
Fonte: Jornal do Brasil, 04/07/2005, Economia & Negócios, p. A18

O forte desempenho dos produtos manufaturados é destaque nos sucessivos recordes das exportações brasileiras. Especialistas, entretanto, alertam que, à exceção dos aviões produzidos pela Embraer, esses produtos apresentam baixo valor agregado. Ou seja, com pouco ou nenhum investimento em tecnologia. - É muito bom termos ampliado o percentual de exportações de manufaturados, mas precisamos conferir mais tecnologia a eles - reforça o diretor do MBA Executivo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Tharcísio Santos.

Em muitos casos, a diferença de preços por tonelada é gritante. Um bom exemplo é a China. Enquanto os chineses venderam ao Brasil, no período de janeiro a maio deste ano, produtos que, por tonelada, custaram US$ 1.585,25, pagaram ao país só US$ 86,17, por tonelada, pelas mercadorias que importou. Isso porque o Brasil comprou peças para transmissores e receptores da China e o país tem como principal produto importado do Brasil o minério de ferro, que tem valor agregado muito menor.

A maior preocupação de especialistas no assunto é a escassez de investimentos no Brasil em ciência e tecnologia, o que pode levar o país a manter em sua pauta de exportação de bens que tendem a diminuir de preço ao longo do tempo, enquanto mantém a necessidade de importar bens que encarecem a cada dia. Assim, os esforços para ampliar de forma sustentável o saldo comercial podem ser minados.

Os três principais produtos importados pelo Brasil - petróleo, autopeças e circuitos integrados - custam, por tonelada, US$ 336,19, US$ 6.409,09 e US$ 639.241,43, respectivamente. Já os principais produtos exportados - minério de ferro, soja e automóveis - têm preço por tonelada de US$ 25,36, US$ 223,08 e US$ 6.523,88, nessa ordem.

O sócio-diretor da Consultoria RiskOffice, Carlos Antonio Rocca, explica que por trás dessa diferença está o coeficiente de incorporação de trabalho qualificado e tecnologia.

- O Brasil exporta bens de menor qualificação tecnológica e importa o contrário - diz.

Para o especialista em economia internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Evaldo Alves, o Brasil não deve deixar de produzir bens agrícolas, mas agregar valor a eles.

- Isso exige uma estratégia de exportação. As vendas para a América Latina têm algum valor agregado, mas para a Europa e Ásia, não - avalia Alves, que alerta: - Os países que exportam bens pouco elaborados terão que vender cada vez mais para comprar as mesmas coisas.