Título: Uma proposta de R$ 100 milhões
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/07/2005, País, p. A2

Antes de concluir o seu extenso depoimento que terminou no meio da madrugada, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza lhe garantiu que arrumaria R$ 100 milhões para o PT e o PTB, se ele conseguisse convencer a direção do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) a transferir US$ 600 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão) da conta de um banco europeu para outro. - Era para tirar US$ 600 milhões que o IRB tem depositado no exterior, não sei se na Inglaterra ou na Suíça, e transferir para o Banco Espírito Santo, de Portugal - disse.

O presidente da CPI, Delcídio Amaral reagiu:

_ Isso é muito grave.

A denúncia envolvendo o Banco Espírito Santo vai ter a sua investigação aprofundada na CPI dos Correios.

Jefferson detalhou que o encontro com Marcos Valério foi intermediado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, em abril, na sede do PTB, na Asa Norte, em Brasília. O presidente do IRB era Luís Apolônio Neto, uma indicação do PTB.

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) questionou:

- Por que o Espírito Santo?

Roberto Jefferson explicou que o banco Espírito Santo tem interesses no Brasil, mas não soube dizer quais.

- O Valério fez uma conta e disse que se isso fosse feito, sobraria dinheiro para o Partido dos Trabalhadores e o PTB.

Como o Jornal do Brasil mostrou ontem, Jefferson disse que ligou para o presidente do PT, José Genoino:

- Zé, esse cara é doido. Ele acha que chove dinheiro, que dinheiro dá em árvores.

Genoino teria respondido, segundo Roberto Jefferson:

- Fica tranqüilo que ele sempre resolve.

Ontem, o presidente nacional do PT, José Genoino negou qualquer conversa nesse sentido. Disse que a conversa com Jefferson sempre foi relacionada às alianças políticas.

Mesmo aparentando cansaço e incômodo com um ferimento na face, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) encerrou seu depoimento de nove horas com uma ruidosa gargalhada, citando a música Nervos de aço, de Lupicínio Rodrigues.

''Há pessoas de nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração, mas não sei se passando o que passo, talvez não lhes venha qualquer reação'' diz a letra do samba, que fala em traição.

Jefferson tem sido a principal fonte de denúncias contra o governo desde que foi divulgada uma gravação, no mês de maio, em que Maurício Marinho, um funcionário dos Correios indicado pelo PTB, aparece recebendo propina para fraudar licitações. No vídeo ele diz que age em consonância com o deputado.

O presidente licenciado do PTB era um dos principais aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atribui a gravação à Abin, que estaria a mando, segundo ele, do então ministro José Dirceu.

- O senhor é o maior reformador do governo - ironizou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

As acusações de Jefferson sobre supostos esquemas de corrupção no governo já derrubaram Dirceu, que era considerado o ''homem forte'' do Planalto, a diretoria dos Correios, do IRB e de Furnas.

Lupicínio, segundo Jefferson, foi a causa dos 12 pontos que o deputado levou na região próxima ao olho esquerdo, na última segunda-feira. Jefferson procurava CDs do compositor na parte superior de um armário quando o móvel virou em cima dele.

O senador Heráclito Fortes perguntou qual a música que o deputado buscava e ele respondeu que era ''Nervos de Aço'', finalizando sua participação na CPI, às gargalhadas.

Após o depoimento, que terminou a 1h40, Jefferson justificou a gargalhada:

- O clima foi de distensão.

Nos momentos finais, a CPI virou um bate-papo, contrapondo-se aos ataques feitos por petistas durante o depoimento. Jefferson chegou a homenagear seu pai, que faria discursos em forma de verso.