Título: Ajustes finais na reforma ministerial
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 02/07/2005, País, p. A3
Com as demissões dos ministros Humberto Costa, da Saúde e Romero Jucá, da Previdência Social, comunicadas ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a movimentar o tabuleiro do xadrez político da reforma ministerial, que será ampla e alcançará também as estatais. A expectativa é de que as alterações sejam anunciadas segunda-feira.
Embora não tenha recebido ainda o bilhete azul de Lula, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vai deixar o cargo na reforma. A transição começou a ser acertada ontem entre ele e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, numa reunião que durou mais de duas horas. O nome dado como certo no governo para substituí-lo é do secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal.
As saídas de Jucá e Costa possibilitarão a ampliação do quinhão do PMDB na Esplanada de dois para quatro ministérios. Ontem, em encontro entre Lula, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP), ficou acertado que o partido irá controlar os ministérios da Saúde e Minas e Energia, além da Previdência Social e das Comunicações, onde será promovida uma dança de cadeiras. Saem Jucá e Eunício Oliveira com destino ao Congresso, e entram o senador Hélio Costa (PMDB-MG) e o secretário-executivo, Paulo Lustosa.
Inicialmente, a intenção dos caciques peemedebistas era acomodar Lustosa nas Comunicações e Costa na Previdência, mas como o senador resiste a assumir um ministério que, segundo ele, demandaria um projeto de recuperação entre cinco e seis anos, a expectativa na noite de ontem era de que Lustosa pudesse assumir o cargo reservado a Hélio Costa, com o mineiro indo para as Comunicações. Outra hipótese seria trocar Costa pelo senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), na Previdência.
Para a Saúde, o PMDB indicou o deputado Saraiva Felipe (MG) e Minas e Energia, o presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau. Secretário-executivo do Ministério da Saúde durante o governo Sarney, Felipe desembarcaria na Esplanada com a chancela do presidente do PMDB, Michel Temer. Mas embora Felipe ainda seja o nome mais forte, Lula ainda não bateu o martelo pois o deputado enfrenta resistências na bancada do PT. As consultas prosseguirão durante o fim de semana. Os petistas sugerem Darcísio Perondi, do PMDB gaúcho.
O aumento de número de pastas não será o único ganho do PMDB na reforma. Na condição de aliado preferencial, cuja contrapartida será um apoio sólido no Congresso, o partido receberá os ministérios com ''porteira fechada'', ou seja, terá a prerrogativa de fazer indicações para todos os cargos de segundo e terceiro escalões das quatro pastas.
Caberá ao partido, por exemplo, o controle da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, subordinada ao ministério das Minas e Energia. Ontem, Lula comunicou ao atual titular, Dilson Conti, da cota do PSB, que seria substituído por um peemedebista.
Lula ainda avalia a possibilidade de contemplar o PP com um ministério. Até ontem não havia definição. Um dos nomes em estudo é o do embaixdor José Botafogo Gonçalves, ligado ao partido.
Outras estatais também entrariam no balaio das modificações, como a Infraero, a Transpetro e a Petrobras. Carlos Wilson, presidente da Infraero, pode ser incorporado à Esplanada. Trabalha por ele o secretário de Comunicação, Luiz Gushiken. O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, deve deixar o cargo para ser candidato em 2006.
Dutra será enquadrado no critério segundo o qual os candidatos às eleições de 2006, deverão deixar o governo. Sob o mesmo raciocínio, os novos ministros também não poderão ser candidatos no próximo ano, uma vez que ficariam apenas nove meses no governo.
Em conversa com Lula ontem no Planalto, o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, anunciou sua desistência de disputar as eleições em 2006. Por isso, permanece no cargo, a exemplo do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, que sublimou a pretensão eleitoral para tocar o Bolsa Família até o fim do atual mandato de Lula.
O enxugamento da máquina administrativa virá com a extinção da Secretaria Especial da Pesca e também a Secretaria de Coordenação Política, o que já foi comunicado aos respectivos titulares. A articulação com o Congresso, será exercida pelo ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, e funcionará num sistema de colegiado, com a colaboração dos chamados ministros do núcleo duro do governo.
José Fritsch, da Pesca, pode assumir algum cargo de segundo escalão e Aldo Rebelo, deslocado para o ministério do Trabalho no lugar de Ricardo Berzoini, que retorna ao Congresso acompanhado de Eunício Oliveira para reforçar a tropa de choque do governo.