Título: Radar social
Autor: Lúcio Alcântara
Fonte: Jornal do Brasil, 02/07/2005, Outras Opiniões, p. A11
Quando o assunto é desigualdade social, é comum ouvirmos comentários sobre heranças históricas que fizeram do Brasil, infelizmente, um dos campeões de ineficiência no combate à pobreza. Não obstante a relevância desse dado na configuração do atual quadro de problemas que assolam o país, é necessário resistir aos apelos da retórica fácil, de pouca fundamentação, escamoteada pelo calor das disputas políticas e eleitorais, visto que isso só falseia a magnitude das dificuldades que vivenciamos, desvirtuando, conseqüentemente, o debate acerca das soluções que possam gerar políticas públicas eficientes para a população.
É por isso que o Radar Social 2005, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) adquire importância singular como instrumento de análise dos indicadores sociais do Brasil, ao apresentar um panorama abrangente no tocante ao acesso da população à saúde, à educação, ao trabalho, à renda, à moradia e à segurança, com dados nacionais e estaduais.
O estudo traz uma radiografia com vários pontos preocupantes. O Brasil ainda figura como um dos principais países no vergonhoso quesito concentração de renda, com desigualdade social em elevação, aumento da informalidade e do desemprego. Com efeito, fica cada vez mais evidente a necessidade de políticas públicas que primem pela continuidade e visão de longo prazo, pelo constante aperfeiçoamento das ações através do fortalecimento da participação e controle social, e pela ampliação dos investimentos direcionados aos municípios do interior, contribuindo para a redução das disparidades regionais.
É isso o que tentamos fazer no Ceará. Os resultados apresentados no Radar Social 2005 mostram que, aqui, a pobreza foi reduzida em 26,5 pontos percentuais, de 1983 a 2003, possibilitando que passássemos da segunda pior posição do Nordeste para a quarta melhor. A distribuição de renda, que em 1983 era a pior do Brasil, atualmente está melhor do que a média nacional e em processo de redução. A taxa de desemprego, 12ª melhor do país, também é melhor que a média nacional. A taxa de mortalidade por causas externas é inferior à média dos outros estados. Por fim, a taxa de mortalidade infantil do Ceará apresentou a maior redução no Brasil na última década, obtendo o reconhecimento da ONU.
Os fatos comprovados pelo estudo do Ipea reforçam a convicção de que trilhamos o caminho certo. Certamente tarefa para mais de uma geração. Aqui os primeiros passos foram dados. Não é à toa que, no Ceará, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) obteve o seu maior crescimento. Dentro dos preocupantes limites da realidade brasileira, está posto que nossa política social é uma das mais consistentes do país.