Título: Estrela cadente
Autor: Clarisse Meireles, Paulo Celso Pereira, Paulo de T
Fonte: Jornal do Brasil, 05/07/2005, País, p. A2

O secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, antecipou-se à reunião de hoje da Executiva Nacional do partido e se afastou ontem do comando petista para dedicar-se ¿integralmente¿ à sua defesa. Ele é um dos acusados pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de envolvimento no escândalo do mensalão. Silvinho, como é chamado, se licenciou da função avisando a petistas que tem ¿compromisso é com a verdade¿. A decisão de Sílvio Pereira pegou de surpresa até mesmo o presidente da legenda, José Genoino. Sílvio Pereira também solicitou a abertura de um processo sobre sua conduta na comissão de ética do partido. As iniciativas ¿ expressas em cartas enviada no fim da tarde ao partido ¿ debilitam a situação de Genoino, desmontando o plano traçado para debelar a crise que se instalou no partido.

Segundo integrantes da Executiva, Genoino falou com Silvinho ao telefone após receber as notas. E perguntou, por exemplo, se deveria tornar pública sua decisão. Silvinho defendeu a divulgação. No partido, a leitura é que, queixando-se de desamparo, o secretário-geral não quis esperar por sua degola. O golpe abalou Genoino, que apostava suas fichas em seu desempenho na entrevista de ontem ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Fosse boa sua performance, a intenção seria protelar para sábado, dia da reunião do Diretório Nacional, qualquer decisão sobre o destino dele próprio, de Silvinho e do tesoureiro Delúbio Soares.

Outra alternativa seria negociar a saída de Delúbio e Silvinho da Executiva, deixando seu futuro para sábado. Agora, o afastamento de Silvinho pôs Delúbio no foco da reunião de hoje. Como o tesoureiro não quer sair só, pode precipitar a discussão de recomposição da Executiva já com a renúncia. Silvio vinha defendendo sua saída sob o argumento de que a demora poderia arranhar ainda mais a imagem do partido. Mas, segundo contou a interlocutores, a direção do partido não só foi contrária à idéia como proibiu que concedesse entrevistas sobre o assunto.

Abandonado, Silvinho tem afirmado que só agiu sob orientação do partido. Em desabafos, lamenta ser um homem de retaguarda, que cumpre ordens. Silvinho nega qualquer participação em negociações com partidos aliados em 2004, argumentando que foi afastado do núcleo de decisões após criticar a estratégia petista para as eleições municipais. Nas conversas, Silvinho diz que se limitou à montagem do governo, com a nomeação de indicados do PT. "Nunca ouvi falar em mensalão", diz ele, lembrando que participou brevemente de uma única reunião com o PTB. ¿Tudo que eu fiz foi perguntar 'E o Bittar?' Já estavam entregando a cabeça dele¿, conta, numa referência ao candidato do PT à Prefeitura do Rio, Jorge Bittar, que seria excluído do acordo com os petebistas.

O petista também costuma reclamar do apetite do PT na partilha de cargos. Segundo lembra, a ganância de petistas por vagas de maior salário deixou para aliados postos passíveis de corrupção, como as delegacias do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e do Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (DNIT).

Entre os 21 representantes da cúpula do PT há um consenso sobre a abertura de comissão de sindicância para apurar as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e ligações com o publicitário Marcos Valério, acusado de ser o negociador do mensalão, além de ter sido o avalista de empréstimo de R$ 2,4 milhões tomado pelo PT no banco mineiro BMG . O secretário de Finanças do PT, Delúbio Soares, divulgou nota em que confirma a realização da operação, no início de 2003, e também a informação de que Valério foi responsável pelo pagamento de uma das parcelas da dívida, de cerca de R$ 350 mil.

As empresas do publicitário Marcos Valério mantêm diversos contratos com estatais e ministérios. Na semana passada, os sigilos fiscal, bancário e telefônico dele e de suas empresas foram quebrados pela CPMI dos Correios. Junto com Delúbio, Valério é apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos responsáveis pelo suposto pagamento de mesadas a parlamentares do PP e do PL, o chamado mensalão. Integrantes do partido anteciparam ontem seus discursos na reunião de hoje. O candidato à presidência do PT pela Articulação de Esquerda, Valter Pomar, quer a criação de uma comissão especial para investigar e recompor a Executiva. O secretário de mobilização do PT, Francisco Campos, defende a saída da Executiva do secretário-geral, Silvio Pereira.

*Clarisse Meireles, Paulo Celso Pereira, Paulo de Tarso Lyra, Renata Moura com Folhapress