Título: Novas denúncias atrasam reforma ministerial
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/07/2005, País, p. A4

A necessidade de substituir a cúpula do PT e as denúncias relacionando o líder do PMDB, José Borba, ao mensalão, fizeram com que o presidente Lula adiasse o anúncio da reforma ministerial, previsto inicialmente para ontem. As alterações na Esplanadas devem ser oficializadas entre hoje e amanhã. À noite, Lula analisou, mais um vez, com o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o senador José Sarney (PMDB-AP) as indicações do PMDB para o Ministério. Pelo mais novo cenário, o partido ficaria com quatro pastas: Comunicações, Minas e Energia, Saúde e Cidades, em vez da Previdência.

O senador Hélio Costa (PMDB-MG) confirmou a indicação de seu nome pela bancada no Senado para ocupar as Comunicações. Além de Costa, o partido escalou Silas Rondeau, presidente da Eletrobrás, para o Ministério de Minas e Energia, que era chefiado por Dilma Rousseff, agora na Casa Civil, e Saraiva Felipe, para a Saúde. Apesar de resistência no PT, os dois devem ser confirmados na Esplanada.

Costa figurava na lista da Previdência em substituição a Romero Jucá (PMDB-RR). Mas o senador preferiu o seu ''campo de atividade'', como classificou as Comunicações, referindo-se ao fato de ser jornalista. Na avaliação de Costa, a Previdência deveria ser ocupada por um técnico.

Governistas revelam, contudo, que a escolha de Lula empacou aí porque o presidente ainda está insistindo com o deputado Delfim Neto (PP-SP) para aceitar integrar o primeiro escalão. E o deputado, embora refute o convite, teria manifestado algum interesse justamente pela pasta ambicionada por Costa.

A escolha peemedebista para o Ministério das Cidades ainda estava na dependência de uma reunião marcada para a noite de ontem no Planalto. Até o fechamento desta edição, Lula, Renan e Sarney continuavam a conversa. Sondado pelos líderes do partido para o posto, o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, declinou do convite porque será candidato no Ceará, em 2006.

Como o PMDB receberá os ministérios com porteira fechada, ou seja, terá a prerrogativa de completar os cargos de segundo e terceiro escalões das pastas, também se estudava ontem a opção do partido para a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), subordinada ao Ministério de Minas e Energia.

Na sexta-feira, Lula comunicou ao atual titular, Dilson Conti, da cota do PSB, que seria substituído. Outras estatais também entrarão nas mudanças, como a Infraero e a Petrobras. Os atuais titulares, Carlos Wilson e José Eduardo Dutra, deixarão o cargo para concorrer em 2006.

Embora o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), ainda não tenha sido procurado por Lula, o PP espera ser contemplado com uma pasta caso indique um quadro técnico do partido, como Delfim Neto ou o embaixador José Botafogo Gonçalves. Ontem, Lula confidenciou a auxiliares que procura quadros de ''notáveis'' para quebrar um pouco o perfil político da Esplanada. Na definição se encaixam também o do empresário Antonio Ermírio de Moraes, que o presidente gostaria de ter como parceiro.

Em meio às indefinições, a transferência do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, para o Trabalho é dada como certa no governo. A função de articulador político caberá ao ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, que acumulará as tarefas. O ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, teria decidido ser candidato no próximo ano e, ao contrário do que se imaginava semana passada, deixará o cargo.

O presidente Lula começou a movimentar o tabuleiro do xadrez da reforma ministerial, que será ampla e alcançará também as estatais, na sexta-feira com as demissões dos ministros Humberto Costa, da Saúde, e Romero Jucá, da Previdência. Embora não tenha recebido ainda o bilhete azul, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também sai. A transição foi acertada com o Antonio Palocci, numa reunião de duas horas semana passada. Será substituído pelo secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal.