Título: Investigação da Abin parou ao esbarrar em petistas
Autor: Hugo Marques, Renata Moura e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 06/07/2005, País, p. A4

Em depoimento à CPI dos Correios, ontem, o agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Edgard Lange disse que o órgão investigou este ano indícios de corrupção na estatal e que a operação teria sido suspensa quando se aproximava da diretoria de tecnologia, ocupada pelo PT. O escândalo dos Correios teve início com a divulgação de vídeo em que Maurício Marinho, ex-chefe do departamento de Contratação e Administração, aparece recebendo propina de R$ 3 mil para favorecer empresas em licitações. Na gravação, divulgada pela revista Veja de 18 de maio, o funcionário afirma que agia em nome do então presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), um dos principais aliados do governo.

Segundo Lange, a ''produção de conhecimentos'' sobre os Correios começou em 5 de abril, e em 17 de maio o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Armando Félix, mandou suspender as atividades:

- No dia 16, quando fizemos o último documento, estávamos nos aproximando dessa área [tecnologia]e recebemos a ordem para parar, por determinação do ministro.

A diretoria de tecnologia, a de maior orçamento, é chefiada por Eduardo Medeiros, indicado por Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, acusado de fraudes em licitações.

Lange afirmou ainda que a ordem para suspender a investigação foi dada um dia após receber cópia do vídeo que gerou o escândalo. Jefferson teria encaminhado a fita no dia 16 de maio, solicitando a identificação do autor da gravação.

Segundo Lange, a operação da Abin foi motivada por denúncia anônima listando servidores dos Correios e empresas fornecedoras que estariam envolvidas em irregularidades.

O agente disse que o general Félix autorizou que os 16 relatórios produzidos sejam colocados à disposição da CPI, desde que não sejam divulgados. Ele ressaltou que não foram realizados grampos.

Também depôs ontem o ex-agente da Abin Jairo Martins de Souza. Ele confirmou ter fornecido a maleta com a filmadora usada para gravar o flagrante de corrupção na estatal e alegou ter divulgado a fita ''para melhorar o país''.

Martins disse ser amigo do diretor de operações da Abin, Paulo Ramos, mas negou ter falado com ele sobre os Correios:

- Não faço arapongagem. O que me move é o meu país.

Parlamentares, porém, suspeitam que ele agiu em nome da Abin.

Jairo Martins afirmou ter sido contatado pelo empresário Arthur Washeck para ''divulgar um problema nos Correios'' e que sua função era fornecer o equipamento de filmagem e levar a fita para o jornalista Policarpo Júnior, de Veja.

A CPI rejeitou o pedido de Martins para ser ouvido em sessão secreta. Ele alegou estar sob ameaça de morte por ter participado da gravação em que o deputado cassado André Luiz (sem partido/RJ) foi flagrado cobrando propina para impedir o depoimento na Assembléia do Rio do bicheiro Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira - de quem Martins também afirmou ser amigo.

Com Folhapress