Título: Empresas de publicitário movimentaram R$ 1,2 bilhão
Autor: Hugo Marques, Renata Moura e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 06/07/2005, País, p. A4

As empresas DNA Propaganda e SMPB Comunicação, do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza - acusado de ser o operador do Mensalão - movimentaram mais de R$ 1,2 bilhão nos últimos seis anos no Bradesco e no Banco do Brasil (BB). Deste total, pelo menos R$ 26,9 milhões são movimentações em dinheiro. Este é o resultado do segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), enviado ontem à CPI dos Correios.

No documento, os dados das movimentações da DNA Propaganda, da SMPB Comunicação, da Estratégica Comunicação, e do publicitário Marcos Valério e sua mulher, Renilda Souza, estão consolidados. As principais novidades são as comunicações retroativas feitas pelo Bradesco e pelo Banco do Brasil, com referência explícita às denúncias do mensalão.

O BB comunicou um valor movimentado pela SMPB de R$ 419 milhões entre 1999 e 2005. Os depósitos em contas da DNA Propaganda, em igual período, no mesmo banco, atingem R$ 836 milhões. Deste total, R$ 377 milhões são de ''origem não identificada''.

O Bradesco comunicou movimentações da SMPB em espécie no valor total de R$ 5,5 milhões entre primeiro de julho de 2004 e o dia 13 do mês passado, período inferior a um ano. Não há movimentações da DNA Propaganda no banco.

Para o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), um dos integrantes da CPI que teve acesso ao documento, os novos dados consolidam o que classificou de ''movimentação monstruosa'' de Marcos Valério.

- Os dados do Coaf consolidam as informações que já tinhamos. É algo surreal e levanta mais suspeitas sobre o pagamento de Marcos Valerias a partidos - disse.

Somados, os saques em dinheiro no Banco Rural e no BB totalizam R$ 21,3 milhões desde julho de 2003, quando a comunicação das operações acima de R$ 100 mil tornou-se obrigatória. Deste total, R$ 4,5 milhões são movimentações nas contas da DNA e R$ 16,8 milhões nas contas da SMPB.

O relatório do Coaf não registrou nenhuma movimentação na agência do Banco Rural no Brasília Shopping. Segundo o deputado Roberto Jefferson, nesta agência era pago o mensalão.

As principais pessoas a realizarem saques nas contas da SMPB e DNA, além do empresário Marcos Valério, foram Geiza Dias dos Santos, funcionária do departamento financeiro da SMP&B; Alexandre Vasconcelos Castro, dono de uma empresa de factoring em Belo Horizonte; Wagner Walter Monteiro e Júlio César Marques Cassao.

Há ainda registros de saques em nome da pessoa jurídica da ''SMP&B Comunicação'', supostamente representada por um dos sócios.

A quase totalidade dos saques foi para pagamento de fornecedores. Esta foi uma das justificativas que Marcos Valério apresentou à Polícia Federal na semana passada. Ele informou à PF que também utilizou os saques em dinheiro para compra de ativos e distribuição de lucros entre sócios.

Militante e fundador do PT no Rio, o presidente da Casa da Moeda, Manoel Severino dos Santos, reconheceu ontem que esteve com Marcos Valério em sete ocasiões desde 2003.

Foram, segundo ele, quatro encontros em 2003, um em 2004 e dois neste ano. A agenda da ex-secretária de Valério, Fernanda Karina, registra quatro desses contatos, em 2003.

Santos diz que sob sua gestão a Casa da Moeda não contratou serviços das empresas de Valério e que o publicitário nunca falou sobre mensalão.