Título: Esquerda do PT critica déficit zero
Autor: Marcos Seabra, Sandra Nascimento e Dimalice Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 06/07/2005, Economia & Negócios, p. A20

A aproximação do ex-ministro e deputado Delfim Netto (PP-SP) com o Palácio do Planalto provocou severas críticas dentro da direção nacional do Partido dos Trabalhadores. A busca pelo chamado déficit nominal zero, articulada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, com a ajuda do deputado do PP, está longe do consenso dentro do próprio PT. O tema foi o segundo mais debatido durante a reunião da executiva nacional do PT, ontem em São Paulo. Para o deputado Ivan Valente (PT-SP), a participação dos ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) ¿legitima¿ o evento de Delfim. ¿ O déficit zero vai amalgamar o grande capital financeiro. Isso agravaria o distanciamento do governo da sua base social. Seria o fim ¿ criticou.

Ontem à noite, Palocci reuniu em Brasília, para um jantar, a convite de Delfim, seu colega Paulo Bernardo, e vários parlamentares e empresários, para discutir e expor os planos de implantação do déficit nominal zero. A proposta ganhou força com a saída de José Dirceu da Casa Civil e baseia-se na adoção, num horizonte de médio prazo, de uma meta de déficit nominal zero, ou seja, as receitas devem cobrir as despesas do governo e pagamento de juros da dívida. O objetivo seria ampliar o corte de gastos públicos como forma de reduzir a relação dívida/PIB.

Quadro histórico do PT, Plínio de Arruda Sampaio considerou absurda a proposta.

¿ Mais seis anos de contenção deixariam o Brasil ótimo, mas o país agüentaria mais tanto tempo de verbas congeladas? ¿ atacou, preocupado com o contingenciamento de investimentos.

As dúvidas em relação à viabilidade da proposta de déficit zero também crescem nas entidades empresariais e trabalhistas. Hoje o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) divulga estudo no qual serão ¿abordados os riscos e os problemas que a adoção de uma política de déficit zero trará para a indústria¿.

No início do jantar, Palocci enfatizou que a redução do déficit nominal não é garantia da imediata queda na taxa de juros.

¿ Você não pode enviar uma proposta de objetivo fiscal e achar que o juro vai cair num passe de mágica. O juro cai quando a inflação controlada exige da política monetária menos esforço.

Idealizador da proposta, Delfim Netto explica como a medida provocaria a queda dos juros.

¿ A economia antecipa a queda, e a taxa de juros desce antes. À medida que o juro encolhe, você aumenta a eficiência do sistema. Não vai faltar dinheiro, vão sobrar recursos.

Para Palocci, a questão mais importante do debate é a redução dos gastos públicos. ¿ A questão fundamental é o compromisso do controle da despesa pública no longo prazo.

Segundo Palocci, o controle fiscal irá garantir mais recursos para a área social no futuro. ¿ Os ganhos são enormes se houver coesão social capaz de produzir compromissos críveis e claros, que possam garantir recursos necessários para os programas sociais, que são importantes, e um equilíbrio de longo prazo nas contas públicas.

Palocci, entretanto, não foi claro sobre a necessidade de aumento do superávit primário para se alcançar o objetivo. ¿ Superávit de 4,25% no longo prazo é fortemente conseqüente com uma meta de redução consistente da dívida pública.

Para o ministro Paulo Bernardo, o governo não deve ter problemas para reunir apoio no Congresso. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que toda a equipe econômica avaliasse a sugestão com outros segmentos da sociedade e no mês que vem o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) vai realizar um seminário para debater a proposta.