Título: Um emaranhado de empresas
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 07/07/2005, País, p. A3

A capacidade empresarial do empresário e publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do mensalão, assustou o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). As empresas DNA e SMP&B, de Valério, de acordo com dados divulgados pela CPI, com base em levantamentos feitos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Caoaf) movimentaram R$ 1,2 bilhão nos últimos seis anos. Seria muito, se ele respondesse apenas por estas duas empresas.

Ontem, Valério apresentou outras dez empresas, misturando eventos, criação de cavalos, campanhas políticas, empresas para comprar imóveis para os filhos, firmas criadas para participar de licitações e fechadas em seguida e até uma para dar emprego ao seu cunhado, Humberto Santiago.

- Me espanta pelo emaranhado de empresas que vossa senhoria participa. Parece algo intencional. Não é comum, mesmo entre os grandes empresários, que se forme uma teia desta natureza - desconfiou Serraglio.

Valério passou o controle das empresas DNA e SMP&B para o nome da mulher, por conta das brigas judiciais com o ex-sócio, Clésio Andrade. Justificou que a mulher não devolveu com ''medo de que eles se separassem''.

- Como isso jamais vai acontecer, eu aceitei - justificou

O publicitário vem sendo investigado pelo Ministério Público Federal há pelo menos cinco anos. As apurações estão concentradas nas unidades do Distrito Federal e de Minas Gerais.

Em 2001, o Ministério Público de Minas Gerais chegou a pedir a condenação do empresário, então diretor financeiro da empresa DNA Propaganda, por sonegação de contribuição previdenciária em valor superior a R$ 5,5 milhões. Nesse processo, Valério foi condenado, em 2003, a 2 anos e 11 meses de reclusão, mas recorreu ao TRF da 1ª Região.

Em Minas Gerais, existem pelo menos duas investigações em andamento envolvendo o publicitário. Uma destas diz respeito a crime de sonegação fiscal no valor de mais de R$ 7 milhões de reais praticado pela SMP&B. A outra trata de empréstimo concedido pelo Credireal à empresa SMP&B Comunicações Ltda. Às vésperas da privatização do banco, a empresa teria entregue ao banco uma fazenda superavaliada como doação em pagamento.

Em Brasília, o Ministério Público investiga o publicitário desde o início do ano passado por supostas irregularidades em contratos de agências de publicidade com estatais, resultantes de licitações públicas. As investigações surgiram a partir de denúncia feita ao MPF de São Paulo de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, teria feito reunião com dois diretores de uma agência de publicidade paulista.

Na reunião, segundo a denúncia, Delúbio teria recebido um envelope com dinheiro. Dois meses depois desse encontro, a agência teria vencido uma licitação na Caixa Econômica Federal. O Ministério Público não divulga o nome do denunciante. Segundo o MPF do Distrito Federal, os procuradores pediram cópia da fita do circuito interno de TV do hotel em que aconteceu a reunião, e foi confirmada pela investigação. Na gravação, não é possível ver a entrega do envelope.

Na época da denúncia, a Controladoria Geral da União investigou os processos de licitação da Caixa para a contratação de agências de publicidade e constatou que não havia irregularidade. O processo foi arquivado, em agosto de 2004, por absoluta falta de comprovação de irregularidades.

Com Folhapress