Título: Começa a reforma ministerial
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 07/07/2005, País, p. A7

O Planalto oficializou ontem os três nomes indicados pelo PMDB para integrar o ministério de Lula, em troca do apoio da legenda no Congresso. A posse de Silas Rondeau, na pasta de Minas e Energia, Hélio Costa, nas Comunicações e José Saraiva Felipe, na Saúde, está marcada para amanhã, horas depois do presidente Lula desembarcar de sua viagem à Escócia.

O presidente aproveitará a cerimônia para anunciar novas mudanças na Esplanada, dando seqüência à reforma ministerial, com possíveis modificações também no comando das estatais. Logo depois, fará uma reunião já com seu novo ministério, no Palácio do Planalto.

As nomeações, antecipadas desde a semana passada pela imprensa, foram comunicadas pelo porta-voz da Presidência, André Singer, ontem. A lista foi objeto de intensa negociação entre o governo e o PMDB até a noite de terça-feira, quando Lula recebeu pela segunda vez na semana o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AM) e o senador José Sarney (PMDB-AP) para acertar a fatia da legenda na nova Esplanada. Após a reunião, Lula fez o convite oficial aos indicados pela sigla.

Até o último minuto, o partido insistiu na obtenção de mais uma pasta. O alvo era o Ministério das Cidades, para o qual o PMDB queria indicar Paulo Lustosa, secretário-executivo das Comunicações. Para Lula, entretanto, seria muito entregar duas pastas com orçamento tão abastado, como Saúde e Cidades, em troca da garantia do apoio de apenas parte da sigla. A negociação valeria apenas na condição do apoio total.

Por trás da decisão do presidente também estava a resistência do PT em aceitar Lustosa. Um dos motivos seria manter no partido o Ministério das Cidades, desenhado como parte do programa de governo e dono de um dos orçamentos mais expressivos da Esplanada. Com a reforma, a sigla abriu mão da Saúde e das Minas e Energia. Ainda corre o risco de perder o Trabalho. O partido tem 17 ministérios, até agora, contra 20 na época da posse.

Além disso, Lustosa é ligado ao ex-líder do PMDB na Câmara, José Borba , que emperrou o processo da reforma ministerial ao ser citado entre os congressistas que receberam mensalão. Borba terminou por complicar ainda mais a situação após a divulgação de nota, na qual afirma ter influenciado, junto com o publicitário Marcos Valério, o preenchimento de cargos do governo pelas legendas da base.

A negativa a Lustosa, contudo, pode significar um tiro no pé da reforma, concebida como o caminho para a ampliação da enfraquecida bancada governista. O Planalto provocou irritação na ala oposicionista do PMDB ao nomear Saraiva Felipe, ligado a Anthony Garotinho. Desagradou a parcela da sigla que apóia o governo e endossou a indicação de Lustosa.