Título: Saúde, sempre a justificativa
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 07/07/2005, Economia & Negócios, p. A17

Conselheiros da Varig e curadores da Fundação Ruben Berta (FRB) se preocuparam ontem em mostrar a consumidores, funcionários e especialmente investidores que não existe conflito entre a controladora e os atuais responsáveis pela reestruturação da companhia. Mas as justificativas apresentadas para a troca de Henrique Neves por Omar Carneiro da Cunha na presidência da Varig foram conflitantes.

O presidente do Conselho Curador da FRB, Osvaldo Cesar Curi, não titubeou ao afirmar que Neves se afastou da presidência da aérea por motivo de saúde, mesmo com a informação dada por integrantes do conselho da Varig de que a mudança fora estratégica, uma vez que o ex-presidente se ''sentiria melhor auxiliando diretamente a reestruturação''.

- Ele estava efetivamente com um problema de saúde. Tem um comunicado da Varig sobre o assunto - atesta Curi, que se apressa a afirmar que não há nenhum racha entre FRB e Conselho de Administração, informação rapidamente confirmada pelo conselheiro Sérgio Ferolla.

A justificativa do problema de saúde foi a mesma apresentada quando o ex-presidente do Conselho Curador da FRB Ernesto Zanata deixou o posto, no mês passado.

Nos bastidores, no entanto, o comentário era de que Zanata não teria concordado com o pedido de recuperação judicial feito pelo Conselho de Administração, o que teria causado sua saída. Da mesma forma, analistas afirmavam que Neves não contava com apoio da FRB.

Os discursos ficam mais afinados quando o assunto é a solução para a crise financeira da companhia. Embora elogiem a atuação do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, diretores da empresa, sindicalistas e ex-integrantes do governo criticam a posição do Planalto, que não realizou o encontro de contas para abater parte da dívida da aérea utilizando créditos relacionados a prejuízos decorrentes do congelamento de tarifas nos anos 80 e 90, estimados em R$ 3,5 bi.

- O governo colocou US$ 1,2 bilhão para socorrer a AES na Eletropaulo e se recusa a ajudar a aviação - criticou Luiz Pinguelli Rosa, coordenador do Programa de Planejamento Energético da Coppe-UFRJ e ex-presidente da Eletrobrás.

- A saída de mercado que o governo prega não passa de uma decisão política, que é o encontro de contas. O que acontece é que o fechamento da empresa fará o governo perder R$ 5,6 bilhões do contribuinte - explica Marcio Marsillac, vice-presidente da Associação de Pilotos da Varig (Apvar).