Título: Amigos de Lula colocam o cargo à disposição
Autor: Sérgio Pardellas e Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 08/07/2005, País, p. A2

O acúmulo de denúncias, suspeitas e acusações torna cada vez mais solitário o presidente Lula, agora às voltas também com a decisão de dois dos auxiliares mais próximos de colocar o cargo à disposição. O chefe de gabinete pessoal do presidente, Gilberto Carvalho, teria anunciado a decisão às vésperas da viagem de Lula à Escócia, a exemplo do secretário de Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, que, a amigos mais íntimos, nega ter conversado com o chefe de governo sobre o assunto. Dois ministros e líderes governistas no Congresso, contudo, confirmaram ao Jornal do Brasil, tanto a decisão de Carvalho, também negada a quem convive com ele no Planalto, quanto a de Gushiken. O chefe de gabinete teria resolvido pela atitude extrema na última semana, no rastro da divulgação pelo Jornal da Noite, da Rede Bandeirantes, de conversas suas com o principal suspeito de ser mandante do assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra.

- Talvez fosse melhor que eu saísse - teria dito Carvalho a Lula, segundo a versão de fontes do Planalto e líderes do Congresso. O presidente recomendou-lhe então que não se precipitasse e aguardasse sua volta, marcada para hoje. Mesma solicitação dirigida a Gushiken.

- O presidente não aceitou, não quer nem ouvir falar nisso - assegura outro integrante do primeiro escalão.

Em conversas com outros auxiliares de Lula, o chefe de gabinete, ao negar o desejo de deixar o governo, sublinhou que o cargo pertence ao presidente.

- À disposição o cargo sempre está - observou

Amigos de Lula de há décadas, Carvalho e Gushiken convivem mais da intimidade do presidente do que o ex-ministro José Dirceu chegou a se aproximar algum dia. Os dois, contudo, têm sofrido nos últimos dias forte pressão para deixar os cargos sobre o argumento de que é necessário blindar o chefe de governo de eventuais ataques da oposição. Integrantes do núcleo principal do poder palaciano, dificilmente Lula abrirá mão da colaboração de ambos no Planalto.

Munição, contudo, os oposicionistas já armazenam contra os dois. Alegam que a consultoria da qual o secretário de Comunicação e Gestão Estratégica foi dono um dia (leia abaixo), teria tido um aumento de 600% no faturamento durante o atual governo. Os recursos viriam de serviços prestados a fundos de pensão de estatais.

No caso de Gilberto Carvalho, gravações reveladas pela Bandeirantes, na semana passada, sugeriam que o chefe de gabinete tentava atrapalhar as investigações do assassinato de Celso Daniel. Num diálogo com o principal suspeito de ser um dos mentores do crime , o Sombra, Carvalho avisa a que se reuniria com então deputado federal José Dirceu para definir a ''tática'' da semana.

Nada disso, porém, afeta a confiança de Lula nos dois auxiliares e parceiros, O chefe de gabinete, além da integral confiança, é uma das poucas pessoas no governo que entram na sala pessoal do presidente da República, no terceiro andar do Planalto, sem a formal liturgia do bater à porta ou do pedido de autorização. Lula também nutre um carinho especial por Gushiken. A interlocutores, o presidente orgulha-se de incorporar o amigo à campanha eleitoral quando ele, adoentado, pensava em abandonar de vez a vida pública.

Resolver logo essa equação, pessoal e política, é a primeira tarefa do presidente ao voltar ao país. Até porque precisa fechar a reforma ministerial, que incluirá mudanças também nas estatais.

Na quarta, Lula anunciou três novos ministros do PMDB: Saraiva Felipe (Saúde), Silas Rondeau (Minas e Energia) e Hélio Costa (Comunicações) . Apesar da reação negativa da cúpula do partido, hoje o presidente pode contemplar a sigla com mais uma pasta. Se depender dos governistas da legenda, leia-se o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o senador José Sarney, será o Ministério das Cidades.

O PP tem chances de ficar com o ministério dos Esportes, se as negociações com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, evoluírem O preferido de Severino é o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), hoje corregedor da Câmara.

Lula também deve confirmar o ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, na função de articulador político com o Congresso, com a missão de articular a aprovação de projetos de interesse do Executivo até com integrantes da oposição.

Para a Previdência, o presidente ainda hesita entre um técnico ou um político para substituir o ex-ministro Romero Jucá. O secretário do Tesouro, Joaquim Levy, pode ser deslocado para o órgão mas não como ministro. Assumiria uma função técnica com a missão de construir mecanismos para reduzir o déficit previdenciário, que está em cerca de R$ 40 bilhões ao ano.