Título: Efeito Jefferson na CPI
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 08/07/2005, País, p. A3

No mesmo dia em que teve o seu sigilo fiscal e telefônico quebrado, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), e mesmo estando bem distante dali, ele conseguiu ontem tumultuar a CPI dos Correios, como há muito não se via no Congresso. Aconteceu de tudo: deputados e senadores chamando para a briga e até palavrões. O motivo: uma carta retificando a entrevista que deu na TV, como antecipou a coluna Boechat, e a votação do pedido de quebra de sigilos, dele e dos petistas, incluindo o ex-ministro José Dirceu. A nota de esclarecimento divulgada pelo deputado fluminense elevou a temperatura da Comissão ao jogar a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) no meio da fogueira do mensalão.

''Questiono ainda a isenção da senadora Ideli Salvati, do PT, membro da mesma Executiva a quem acuso de fazer o pagamento do citado mensalão por meio de Delúbio Soares com o conhecimento de José Genoino, Marcelo Sereno e Silvio Pereira, além do ex-ministro José Dirceu'', diz o último item da nota. O documento, lido no meio da reunião da CPI, provocou a ira da senadora Ideli.

- Fui citada por ele, porque tenho focado meus questionamentos na falta de provas. Estava na hora de alguém peitar. Eu fiz e acabei sendo o alvo dele - esbravejou a senadora, que ontem mesmo entrou com representação contra Jefferson no Conselho de Ética do Senado.

Mais tarde, a assessoria de Roberto Jefferson disse que ao fazer a referência a Ideli, o deputado trocou o pronome relativo ''que'' pelo ''quem''.

A nota de Jefferson tinha como objetivo esclarecer as acusações, feitas durante entrevista no programa do Jô, na Rede Globo, na última segunda-feira, de que os integrantes da CPI recebiam o mensalão. Jefferson disse que se confundiu e que desconhece a participação direta de qualquer membro da CPI no mensalão. Somente a senadora petista foi mantida na linha de tiro de Jefferson. Ideli afirmou que seu relacionamento com o deputado Roberto Jefferson sempre foi muito restrito. Segundo a senadora, as conversas aconteceram ''para tratar de alianças entre PT e

PTB durante campanhas municipais em Santa Catarina''.

Desde cedo, o clima na CPI não era dos mais tranquilos. Um dos maiores pontos de tensão era a definição sobre a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do deputado José Dirceu, do presidente do PT, José Genoino, do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do ex-secretário-geral do partido Sílvio Pereira, ao lado de Roberto Jefferson. Pressionadas pela oposição, eles acabaram autorizando a quebra do sigilo, mas isso custou quase quatro horas de discussão. As mensagens chegaram através de fax à CPI.

O deputado federal fluminense, Jorge Bittar (PT-RJ) foi acusado de ''amarelar'' diante de Jefferson por um deputado de oposição. Bittar se irritou e rebateu dizendo que que eles não tinham o direito de quebrar o sigilo dos petistas porque ''conviveram bem com a ditadura''. No fim, foi feito o acordo em que os membros titulares da CPI e suplentes também abririam seus sigilos, se necessário.

A CPI dos Correios conseguiu aprovar 47 requerimentos ontem. Foram aprovados a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), de dez empresas ligadas a Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão. Também foram aprovadas a convocação do tesoureiro licenciado do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, da mulher de Marcos Valério, Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza, das duas funcionárias da SMP&B, Geiza Dias dos Santos e Simone Reis de Vasconcelos.

Os parlamentares da comissão parlamentar também requisitaram as fitas do sistema de segurança do Brasília Shopping, na capital federal, onde se localiza a agência do Banco Rural supostamente utilizada para fazer pagamentos do mensalão. Eles também querem que o Banco Rural informe nos próximos dias, quais os correntistas que efetuaram saques superiores a R$ 30 mil na agência do shopping em Brasília.