Título: Secretária revela ligação de Valério com doleiro
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/07/2005, País, p. A4

Em depoimento à CPI dos Correios, a secretária Fernanda Karina Somaggio confirmou ontem que Marcos Valério Fernandes de Souza manteve contato com um doleiro preso pela Polícia Federal na operação Farol da Colina. Ela também afirmou que a agência do Banco Rural, em Belo Horizonte, abria mais cedo para que funcionários da SMPB e DNA Propaganda fizessem vultosos saques em dinheiro. Antes de iniciar o depoimento, Karina fez questão de ler uma lista com 34 itens nos quais procurou demonstrar que tudo o que falou é verdade. ¿ Tudo o que falei vem sendo comprovado.

O depoimento começou com atraso, às 16h30. Até às 21h, não havia terminado. Questionada pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR) se sabia se Marcos Valério mantinha algum relacionamento com um doleiro chamado Haroldo (Bicalho), a secretária afirmou que pelo menos em uma ocasião ligou para ele porque o ex-patrão havia importado três cavalos que deveriam ser pagos em dólares. Ela forneceu o endereço do doleiro. Ontem, Valério disse à CPI que não mantinha contatos com Bicalho e declarou que seu sócio, Cristiano Paz, é amigo do doleiro.

O senador perguntou à secretária se ela tinha conhecimento se Valério mantinha contas no exterior. De acordo com Karina, o representante do banco Merryl Linch Júlio Lage vinha ao Brasil algumas vezes e falava com Valério. No entanto, ela não soube informar o teor da conversa.

Álvaro Dias afirmou que em dois anos Marcos Valério enviou US$ 750 mil, em 50 remessas, para a conta Beacon Hill, uma offshore em Nova York que, de acordo com a CPI do Banestado, foi utilizada para lavagem de dinheiro.

Fernanda Karina, que está sendo processada por Marcos Valério acusada de extorsão antes do caso do mensalão, afirmou que funcionários das agências SMPB e DNA Propaganda ¿iam mais cedo¿ à agência do Banco Rural, em Belo Horizonte, para sacar vultosas quantias de dinheiro. Ela não soube dizer qual o valor de cada transação.

¿ A Simone (Vasconcelos, diretora financeira) ligava avisando que os boys iam passar no banco e a agência abria mais cedo ¿ afirmou Karina, que falou à CPI como informante e não como testemunha.

De acordo com Fernanda Karina, ¿dois ou três office-boys se dirigiam ao banco para dar garantia, em caso de assalto¿. Ela estimou que os saques aconteciam pelo menos uma vez por semana. A secretária declarou que que nunca viu o dinheiro dos saques ¿pessoalmente¿. Afirmou entretanto que ¿sabia da logística do dinheiro¿. Ela acredita que as notas eram acomodadas em valises tipo 007, que ficavam no departamento de finanças da agência.

A secretária voltou a destacar a amizade entre o ex-patrão e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e observou que seu ex-chefe ¿gostava de se gabar de que conhecia vários políticos e que tinha relações estreitas com o PT¿. Segundo Fernanda Karina, Valério se encontrou ¿várias vezes¿ com o deputado José Mentor (PT-SP) em um hotel em São Paulo. Nesses encontros, ainda conforme a secretária, estava acompanhado do ex-vice-presidente do Banco Rural, José Dumont, já morto. O banco é suspeito de participar de esquema de envio irregular de recursos para o exterior, como levantou a CPI do Banestado. Mentor era relator da CPI.