Título: De volta ao começo
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/07/2005, País, p. A7

Os britânicos foram do céu ao inferno em 24 horas. Um dia depois de Londres ter sido escolhida a sede das Olimpíadas de 2012, o centro da capital foi sacudido por quatro explosões coordenadas ¿ três no metrô e uma em um ônibus de dois andares, entre as 8h51 e 9h47, horário de rush. O atentado a bomba teve a impressão digital da rede terrorista Al Qaeda, que além de humilhar um dos serviços secretos mais eficientes do mundo, deu uma demonstração de força, mais de um ano após atacar Madri. O terrorismo islâmico expôs a vulnerabilidade das metrópoles ocidentais e comprovou a tese sombria de que tudo o que foi feito para aniquilá-lo, desde os ataques de 11 de setembro, de pouco ou nada adiantou. A ação em Londres foi assumida, via internet, pela desconhecida Organização Secreta do Grupo da Al Qaeda para a Jihad na Europa. Trinta e oito pessoas morreram e 700 ficaram feridas ¿ 45 delas gravemente. Não há notícia de vítimas brasileiras. Em Greneagles, Escócia, onde liderava a cúpula do G8, o primeiro-ministro Tony Blair classificou o ataque ¿ o maior na Grã-Bretanha desde a derrubada do avião da PanAm em Lockerbie, em 1986 ¿ como ato ¿bárbaro e cruel¿. Recebendo apoio dos líderes do G8 e dos países emergentes, Blair leu, ao lado dos presidentes da França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Canadá, Japão, Rússia, Índia, África do Sul, Brasil e Estados Unidos ¿ George Bush estava do lado direito ¿ uma declaração comum garantindo a seqüência da reunião. Na pauta do G8 está o perdão de parte da dívida externa de países da África.

¿ Não se trata de um ataque contra uma nação, mas ao mundo civilizado. Não permitiremos que a violência mude nossas sociedades e nossos valores ¿ urgiu.

Minutos depois, o premier viajou para Londres, onde falou à nação, afirmando que a segurança será ¿intensificada¿ e que os responsáveis ¿agiram em nome do Islã¿ ¿ o que é confirmado no comunicado da Al Qaeda.

¿Nações árabes e do Islã: Alegrem-se, pois é tempo de vingar a cruzada sionista do governo britânico em retaliação pelos massacres que a Grã-Bretanha comete no Iraque e no Afeganistão. Os heróicos mujahedeens realizaram um ataque abençoado em Londres. A Grã-Bretanha agora arde com medo, terror e pânico em seus flancos Norte, Sul, Leste e Oeste¿, diz o comunicado, que analistas consideraram autêntico.

O texto deixa claro que os ataques foram objeto de minuciosa preparação ¿ ¿depois de extenuantes esforços, por um longo período, nossos mujahedeens tiveram sucesso¿ ¿ e aponta os próximos alvos: Dinamarca e Itália. ¿Seus líderes cruzados serão punidos da mesma forma se não retirarem suas tropas do Afeganistão e do Iraque¿. O vice-comissário da Polícia Metropolitana de Londres, Brian Paddick, disse que o governo não recebeu reivindicação oficial da autoria e que não foi previamente alertado sobre as explosões do ônibus, perto da Praça Russel, e no metrô, próximas da estação de Liverpool Street, entre as de Russell Square e King's Cross e na Edgware Road, quando o trem seguia para Paddington.

A Scotland Yard crê que pelo menos o ataque contra o ônibus tenha sido obra de um suicida. O grupo terrorista IRA (Exército Republicano Irlandês) negou vínculos com a ação. A pedido do embaixador britânico na ONU, Emyr Jones Parry, o Conselho de Segurança aprovou resolução condenando o ataque. Blair voltou para Gleneagles à noite, ¿para continuar as deliberações por um mundo melhor¿. Mas desde cedo, Bush, o maior aliado, avisara que ¿a guerra contra o terrorismo continua¿.

¿ De um lado, temos pessoas que trabalham para reduzir a pobreza, acabar com a pandemia da Aids e proteger o meio ambiente. De outro, indivíduos que matam inocentes. O contraste é claro entre as intenções dos que defendem os direitos humanos e a liberdade e os que matam por ter o mal no coração ¿ discursou o americano.