Título: Horror
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/07/2005, País, p. A8

Assim que as sirenes de ambulâncias e carros de bombeiros começaram a invadir o centro de Londres, o horror e o pânico causados pelas explosões tomaram forma. Várias ruas junto às estações de metrô se transformaram em hospitais ao ar livre para socorrer centenas de vítimas. As equipes de resgate se esforçavam para atender os feridos, muitos em estado grave, com queimaduras pelo corpo e mutilações. Na Praça Russel, onde o ônibus de dois andares explodiu, havia partes de corpos a dezenas de metros. Uma mancha de sangue podia ser vista na fachada do prédio da Academia Britânica de Medicina, a quase dez metros de altura. O cenário chocou quem estava perto.

- Saí do banco, caminhei uns 20 metros e olhei para o ônibus, que simplesmente explodiu. O chão tremeu e o veículo foi pelos ares. Foi arrasador. Todos corriam para salvar suas vidas, chorando. Havia sangue por toda a parte. O que se via, logo depois, era uma cena terrível, havia pedaços de gente no chão - contou Ayobami Bello.

Na correria, até ônibus foram usados como ambulâncias. Junto com os médicos, especialistas procuravam vestígios de agentes químicos, biológicos ou nucleares que pudessem dar pistas para uma investigação.

- Pude ver o teto arrancado, partido ao meio. Um lado do veículo simplesmente desabou- contou Jenny Gimpel, que estava a caminho do trabalho. Richard Jones escapou de uma das explosões por muito pouco.

- Estou me sentindo sortudo. Assim que saltei do ônibus, senti uma forte explosão e um barulho muito alto - disse.

Dentro das galerias do metrô, o horror foi maior. Os túneis são estreitos e pelo menos uma das bombas detonou no momento em que duas composições se cruzavam. Na escuridão e em meio à fumaça e às chamas, passageiros tiveram que quebrar os vidros para fugir do inferno.

- Houve um estrondo e um clarão atingiu a lateral do trem - afirmou Derek Price, de 55 anos, que estava em um vagão próximo à estação Liverpool Street. A sueca Cornelia Berg, que pilotava um dos trens, ouviu o barulho.

- Tudo ficou preto, e as pessoas se jogaram no chão, em pânico. O vagão logo foi tomado pela fumaça e muita gente usou guarda-chuvas para quebrar as janelas e respirar. Uma mãe, com dois filhos pequenos, sentou ao meu lado e chorou - afirmou.

O estado dos que saíam da galeria em King's Cross impressionaram Hamish MacDonald:

- Havia pessoas com queimaduras graves nos rostos e cabelos chamuscados. Uma mulher estava muito nervosa e não parava de perguntar se seu rosto estava queimado - contou, sendo confirmado por outra testemunha, Gary Lewis, de 32 anos.

- Os passageiros estavam cobertos por uma fuligem preta e por fumaça. Corriam para todos os lados gritando. Foi um caos - contou. - A imagem que não me sai da memória é de uma mulher cuja face estava completamente negra de fuligem e sangrando. Provavelmente passou pela mesma situação que um dos sobreviventes, que não se identificou:

- A detonação me atingiu pelas costas. Todo mundo que estava em volta de mim começou a gritar. Não conseguia respirar, estava na frente do primeiro vagão de onde podia ver o enorme buraco que se formou no trem. Quando passei para o segundo vagão pulei por corpos amontoados - disse

O americano Sean Barron, de 20 anos, ajudou a tratar dos feridos em Edgware Road.

- Um homem me contou que o chão do vagão em que estava desintegrou, foi completamente destruído. Ele viu um sujeito ser ejetado do trem - relatou.

No resto da cidade, pessoas atônitas tinham que ir para o trabalho ou para casa a pé. O metrô foi fechado e a circulação de ônibus, interrompida. O tráfego nas ruas acabou. O silêncio tomou conta da capital britânica, reforçando uma atmosfera sombria ampliada pela pane nos celulares e na internet. Muitos tentavam ligar para seus entes queridos da rua e grandes filas se formaram nos orelhões.