Título: Mantega critica déficit zero
Autor: Sabrina Lorenzi e Juan Velásquez
Fonte: Jornal do Brasil, 08/07/2005, Economia & Negócios, p. A20

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, avalia que a proposta de se chegar ao déficit zero - em que a receita do governo é suficiente para pagar as despesas e os juros da dívida pública - deve ser alcançada com menos gastos no pagamento de juros. Ele acredita que a medida sugerida inicialmente pelo deputado Delfim Neto (PP-SP) provocaria cortes em projetos sociais e em investimentos. Segundo Mantega, o maior problema do déficit é o perfil da dívida pública.

A sugestão de Delfim que virou proposta de emenda constitucional consiste em congelar gastos para o país chegar ao déficit nominal. Mantega lembra que 60% do endividamento correspondem a títulos pós-fixados que acompanham a trajetória da taxa básica de juros. Ele acredita que a mudança da dívida para papéis prefixados deveria ser o principal objetivo a ser perseguido, e não zerar o déficit com corte de gastos.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, a proposta de redução de gastos públicos tem por objetivo apenas zerar o déficit.

Segundo ele, com seis anos de redução de despesas e mais quatro de estabilidade, seria possível reduzir os juros.

- Claro que, se conseguirmos estas reduções, o déficit zero pode ser conseqüência. Mas em nenhum momento o objetivo apenas de déficit zero foi sequer mencionado.

Skaf acredita que a proposta transformará as contas públicas deficitárias em superavitárias.

- Os gastos em excesso são inflacionários, aumentam a carga tributária e os juros. Um choque de gestão permitiria a economia de milhões. Este ano a Previdência deve fechar com déficit de R$ 40 bilhões. Com um choque de gestão, podemos reverter isso para um superávit de R$ 20 bilhões - disse.

Em Campinas, o economista Márcio Pochmann divulgou estudo segundo o qual a elevação de 20% para 40% nas receitas desvinculadas - o principal ponto da proposta de déficit zero - poderá significar um corte potencial de R$ 42,5 bilhões nas despesas sociais, o que corresponde a 2,4% do PIB. Desta forma, o superávit primário social avançaria de 34% do total de gastos com pagamento de juros da dívida para 61%. Segundo o economista, a Previdência perderia 11,8% do orçamento, ou R$ 19,7 bilhões, e programas como seguro-desemprego seriam comprometidos.