Título: Faroeste legislativo
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 08/07/2005, Brasília, p. D1

A Câmara Legislativa do Distrito Federal vive clima de faroeste. Agressões e ameaças entre os distritais fazem parte da rotina da Casa e chegam a tal ponto que, em dois casos, levaram parlamentares a procurar proteção policial. Há um mês o deputado Paulo Tadeu (PT) anda escoltado por um segurança da Casa. Esta semana, foi a vez de Eurides Brito (PMDB) pedir guarda. O requerimento da peemedebista foi encaminhado à Secretaria de Segurança Pública pelo presidente Fábio Barcellos (PFL), mas a Câmara ainda não recebeu resposta. Relator da CPI da Educação, Paulo Tadeu desentendeu-se com o deputado João de Deus (sem partido) durante a sessão do dia 10 de junho. Irritado com declarações do petista de que integrantes da comissão estariam ''atrapalhando as investigações'', João de Deus encarou Paulo no cafezinho. No meio da discussão, João virou uma mesa sobre o colega. Segundo testemunhas, Paulo partiu para o duelo e, depois de terem sido apartados, teria ouvido do colega: ''se você continuar, nunca mais vai ver seus filhos''. João de Deus, policial militar licenciado, nega as acusações.

- Não desejo nada contra ninguém. Matá-lo, só se for de raiva na CPI. Nunca vi uma comissão de cinco integrantes e que apenas três se reúnem - reclamou João, acusando o petista de querer ''posar de vítima''.

- Esta é uma Casa que muitas vezes movimenta interesses escusos, que envolvem bilhões de reais - avalia o petista, que só deixa a residência, inclusive aos fins de semana, acompanhado do segurança particular.

As desavenças de João de Deus com parlamentares do PT são conhecidas na Casa. O parlamentar foi denunciado pelo Ministério Público por ter empurrado em plenário a líder do partido Érika Kokay no ano passado. Há duas semanas eles protagonizaram nova troca de insultos. A deputada disse da tribuna que o comportamento de alguns a fazia se lembrar de uma música ''bicho humano uivando'', e João, tomando para si a ofensa, devolveu: ''tem muita cadela latindo aqui''.

Empurrões entre distritais, aliás, não são novidade. Em março deste ano, os distritais Pedro Passos (PMDB) e Peniel Pacheco (PDT) enfrentaram-se em um dos palcos prediletos para desavenças: o cafezinho do plenário. O motivo foi a disputa entre a base rorizista e o bloco Frente Democrática, que unia do mesmo lado oposicionistas e uma ala rebelde dos governistas.

- Esperamos que este recesso esfrie a cabeça dos deputados. Podem discutir as idéias no campo político, mas respeito cabe em qualquer lugar - diz a líder do governo Anilcéia Machado (PMDB), que tenta fazer as vezes de pacificadora em meio aos confrontos.

Na última sessão legislativa deste semestre, segunda-feira passada, os inimigos declarados Eurides Brito e José Edmar (Prona) entraram novamente em conflito. Depois de receber uma intimação da Corregedoria Geral de Polícia Civil para prestar esclarecimentos a respeito de supostas ameaças de morte contra Eurides e Wigberto Tartuce, Edmar discursou chamando os colegas de ''mafiosos'' e ''chefes de quadrilha'', e disse que não faria justiça ''com as próprias mãos''. Sentindo-se ameaçada, ela pediu segurança pessoal à presidência. Edmar acusa Eurides e Wigão de armarem sua prisão, em julho do ano passado.

- Fui eu quem pediu proteção policial aos dois, pois eles podem armar um atentado contra eles mesmos às vésperas no meu julgamento [marcado para 2 de agosto], só para me culparem - disse Edmar.

Por recomendação da segurança da Casa, Eurides chegou a trocar de lugar no plenário, para evitar proximidades com o desafeto. Vigão também considerou o discurso de Edmar uma ameaça, mas não pedirá escolta.

Para o vice-presidente Chico Floresta (PT), as brigas chamuscam ainda mais a imagem da Casa para a opinião pública.

- Tudo indica que o índice de renovação nos legislativos será grande nas próximas eleições, por conta do desânimo da população com a política. E muitos distritais estão preocupados com essa situação - justifica.