Título: Israel quer apoio do Brasil na ONU
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Fonte: Jornal do Brasil, 30/05/2005, País, p. A6

O governo israelense quer que o Brasil reavalie suas posições nas votações da Organização das Nações Unidas (ONU) relacionadas a Israel, disse ontem em Jerusalém o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. A posição, segundo Amorim, foi manifestada pelo chanceler israelense, Silvan Shalom, durante almoço na sede do ministério do Exterior de Israel. - Ele expressou o ponto de vista de Israel de que gostaria que o Brasil não votasse tantas vezes contra Israel nas Nações Unidas - disse Amorim.

- Eu expressei o nosso ponto de vista, de que nós não votamos contra Israel, nós votamos de acordo com certos princípios que defendemos, ao lado de muitos outros países, como o direito de auto-determinação e de não-intervenção - afirmou o chanceler brasileiro.

Segundo Amorim, que completou seu segundo dia de missão oficial em Israel, Shalom também deu a entender no encontro que considera o Brasil ''um possível candidato'' a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, mas que o governo de Ariel Sharon ainda não definiu qual sua posição em relação à ampliação do organismo mais importante das Nações Unidas.

Amorim e Shalom assinaram um documento de princípios para a criação de um diálogo político permanente entre os dois países para estabelecer ''um mecanismo freqüente de troca de informações''.

As medidas ajudaram a aliviar o ''desconforto diplomático'', segundo a descrição de diplomatas israelenses, criado depois que o Brasil organizou a cúpula entre países sul-americanos e árabes em Brasília.

Apesar da repercussão da cúpula organizada pelo Brasil com países árabes, o almoço foi descontraído e as diplomacias de Israel e do Brasil decidiram deixar o tema da cúpula fora dos debates abertos. O chanceler brasileiro disse que os contatos feitos com autoridades israelenses foram ''muito positivos'' e abriram ''muitas oportunidades de cooperação''.

Shalom, de acordo com Amorim, elogiou programas sociais brasileiros e disse que Israel pode investir em projetos de irrigação e agricultura no Brasil. O chanceler brasileiro também disse que manifestou o apoio brasileiro ao plano de retirada de assentamentos de Gaza e à necessidade de fortalecimento do presidente palestino, Mahmoud Abbas.

Amorim disse que o Mercosul vai anunciar de maneira oficial em junho a abertura de negociações da parceria com Israel. Esse tema era um dos pontos de atritos diplomáticos, já que os israelenses consideravam que o Brasil não estava levando a sério seus pedidos para o estabelecimento de maior contato comercial com o Cone Sul. O chanceler brasileiro encontrou-se também com o vice-premiê e ministro da Indústria e Comércio israelense, Ehud Olmert. Segundo Amorim, o ministro israelense demonstrou interesse em jatos civis brasileiros, açúcar e álcool combustível.