Título: 'Guantánamo é instalação modelo'
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Fonte: Jornal do Brasil, 30/05/2005, Internacional, p. A12

O general Richard Myers, chefe do Estado-Maior conjunto dos Estados Unidos, criticou ontem o relatório anual de Anistia Internacional (AI) que descreve a prisão americana na base de Guantánamo, em Cuba, como um gulag moderno, e desqualificou a comparação.

O general também ressaltou que ''cem casos de maus-tratos'' haviam sido descobertos entre os 68 mil prisioneiros retidos pelos Estados Unidos, e afirmou que os culpados haviam sido punidos.

- Na verdade, a prisão de Guantánamo é uma instalação modelo - sustentou o general Myers.

Em seu informe anual publicado na quarta-feira passada, a organização de defesa dos direitos humanos afirmou que a prisão de Guantánamo, onde estão detidos mais de 500 suspeitos de terrorismo, era ''o gulag de nosso tempo'', em alusão aos campos de prisioneiros soviéticos da época de Joseph Stalin.

- Acho que esta comparação é absolutamente irresponsável - declarou Myers neste, afirmando que os soldados americanos tentavam tratar os detentos de Guantánamo da forma mais humana possível.

O general enfatizou que 1.300 livros do Alcorão em 13 idiomas diferentes haviam sido distribuídos aos presos, e que a conta da alimentação - que inclui ''comida adequada às crenças muçulmanas'' - se elevava a 2,5 milhões de dólares por ano.

A prisão de Guantánamo é denunciada pelas organizações de defesa dos direitos humanos. Ela esteve recentemente no centro de uma polêmica sobre supostas profanações do Alcorão por militares americanos, que desataram protestos antiamericanos mortíferos no Afeganistão.

O general Myers destacou que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) estava ''em Guantánamo desde o primeiro dia'' da abertura da prisão, e lembrou que detentos de alta periculosidade se encontravam ali.

- Se estes indivíduos forem libertados, vão tentar cortar nossas gargantas e as de nossos filhos - exagerou Myers.

- O presidente George Bush já disse que nossa meta é tratar os prisioneiros com humanidade e de acordo com os princípios estabelecidos pelas convenções de Genebra, e é exatamente o que fazemos - garantiu o general americano.

Ontem pela manhã, Myers foi à uma rede de televisão defender sua declarações. O general afirmou que todos ficam ''preocupados com o modo de lidar com os prisioneiros'', mas que às vezes é ''um problema saber o que fazer com eles''.

- Mantivemos cerca de 68 mil prisioneiros. Um total de 325 investigações sobre acusações de maus-tratos cometidos contra detentos foram conduzidas, e cem destas acusações se revelaram verdadeiras - explicou Myers .

- Nestes cem casos, os responsáveis foram julgados em cortes marciais e punidos. Sessenta e oito mil prisioneiros para cem soldados culpados de maus-tratos: esta relação não pode ser vista como o produto de um sistema. A política do governo americano é tratar os presos com humanidade - defendeu-se o chefe do Estado-Maior.