Título: Hospitais agonizam no fim de semana
Autor: Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 30/05/2005, Rio, p. A23

Desfalcados em até 30% do seu quadro clínico, os hospitais estaduais funcionaram em situação crítica durante o fim de semana, quando a procura por atendimento normalmente triplica. A situação piorou quando o Corpo de Bombeiros foi avisado ontem pela manhã para que não levasse vítimas de acidentes para os hospitais Getúlio Vargas, na Penha, Albert Schweitzer, em Realengo, e Saracuruna, em Duque de Caxias. Segundo o deputado estadual Paulo Pinheiro, presidente da Comissão de Saúde da Alerj, os próprios chefes de equipe dos hospitais fizeram o pedido ao Grupamento de Socorro e Emergência. Sem opção, os bombeiros levaram os acidentados para a emergência do já sobrecarregado Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, e para o Hospital Central do Exército, em Benfica. Duas vítimas de um acidente de carro ocorrido pela manhã na Leopoldina tiveram que ser levadas diretamente para o Hospital Central do Exército, porque não havia como atendê-las no Hospital Estadual Getúlio Vargas. Sem ortopedistas, cirurgião vascular, neurocirurgiões e tomógrafo, o hospital ainda recusou o atendimento de uma criança, que teve a cabeça atingida pela queda de uma televisão, em casa, em Vila Valqueire.

No Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, um terço dos funcionários não compareceu ao plantão. Na emergência, onde deveriam atender 16 médicos, só havia seis.

Sem maqueiros disponíveis, as pessoas que estavam na fila ajudaram a remover uma mulher que passava mal do carro para a emergência.

- É um absurdo, não tem nenhum maqueiro para me ajudar! - gritava o mecânico Luciano de Oliveira, que tinha levado a mulher para o hospital, depois de encontrá-la desmaiada na rua, no bairro de Santa Rosa, em Campo Grande.

A família do autônomo Manoel Batista, 54 anos, internado pelo agravamento de uma meningite na sexta-feira, só ficou sabendo que ele teve duas paradas cardiorrespiratórias ontem à noite. Indignado, o sobrinho de Manoel, Rodrigo Araújo, lamentava o descaso com os doentes.

- Ele está desde sexta-feira na emergência, aguardando vaga para ser internado - contou.

A situação dos outros hospitais estaduais também era precária. Todo o setor de trauma estava desfalcado: no Albert Schweitzer não havia ortopedista. No Hospital de Saracuruna não havia ortopedista, clínico-geral nem radiologista.

Os médicos prestadores de serviço não foram trabalhar em protesto contra a decisão da Secretaria Estadual de Saúde, que transformou profissionais prestadores de serviços em cooperativados. O Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência Social (Sindsprev/RJ) fez um apelo para que os enfermeiros trabalhassem ao menos neste fim de semana, que poderia ser sobrecarregado pelo fato de ser fim de feriado, quando a probabilidade de acidentes aumenta.

O presidente da Associação dos Funcionários do Hospital Estadual Pedro II, Gilberto Mesquita, informou que no sábado, apenas três médicos estavam atendendo no pronto-socorro do hospital.

- Eles estão há três meses sem receber, e resolveram cruzar os braços até que o governo estadual faça o pagamento - explicou Mesquita.

De acordo com o presidente da Comissão de Saúde da Alerj, deputado estadual Paulo Pinheiro (PT), será solicitada ainda hoje uma reunião urgente dos funcionários com o secretário estadual de Saúde, Gilson Cantarino.

- Vamos pedir a inclusão de um agradecimento formal na ficha funcional de cada funcionário que foi trabalhar neste fim de semana caótico - disse o deputado.

A subsecretária estadual de saúde, Alcione Athayde, alegou que os diretores dos hospitais estão autorizados a preencher as vagas dos funcionários que não foram trabalhar assim que a necessidade seja detectada.

- Não precisa nem comunicar à secretaria. Enquanto for necessário, os hospitais podem contratar pessoal, em caráter emergencial.