Título: Sol nascente para investimentos
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Jornal do Brasil, 30/05/2005, Economia & Negócios, p. A17

Empresários brasileiros demonstravam otimismo ao final da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão, entre a última quinta-feira e sábado. Eles ouviram de representantes do setor privado e do governo do pais asiático intenções de investimentos e de mais comércio com o Brasil. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a confederação japonesa Keidanren resolveram continuar os estudos para que em 2008 haja um acordo comercial entre as duas economias. Houve demonstrações também de que o uso do etanol no pais asiático pode deslanchar, beneficiando um setor cujo tratamento era prioritário na agenda da visita do presidente, e assinaturas de acordos envolvendo empresas como a Petrobras e a Companhia Vale do Rio Doce.

Mas os japoneses deram um recado claro: querem garantias de estabilidade no país, pois encontram diversos obstáculos para investirem e fazem planos de longo prazo. Por longo prazo querem dizer 30 anos, e não cinco, segundo afirmou o presidente do Mizuho Corporate Bank, Hiroshi Saito, num café da manha com a delegação do presidente.

Os asiáticos mostraram interesse nas Parcerias Público Privadas (PPPs) tanto no café da manhã - do qual participaram 16 presidentes e CEOs de grandes empresas japonesas e órgãos de crédito, como o Japan Bank for International Cooperation (JBIC) -, quanto no seminário Brasil-Japão: Oportunidades de Comércio e Investimentos, que reuniu cerca de 500 japoneses e os empresários brasileiros.

- Somos um país que precisa ampliar sua infra-estrutura - disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan aos japoneses. Mas nesse caso, os empresários asiáticos também pediram regras mais claras sobre a participação do capital estrangeiro nos projetos, indicando ser um incômodo os pontos pendentes dessa iniciativa, como o do papel das agências reguladoras, que serão responsáveis pelas concessões.

Houve outras reclamações ou demonstrações de dúvida. No seminário, um empresário japonês levantou inclusive a questão da corrupção no Brasil e das dificuldades, por exemplo, para se abrir uma empresa no país. Num estudo entregue à Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Keidanren reclamou ainda de problemas como o complexo sistema fiscal brasileiro e da falta de segurança pública.

Segundo o vice-presidente da CNI, José Freitas de Mascarenhas, a continuidade das discussões de um Acordo de Parceria Econômica (EPA) deverá ocorrer por meio de um grupo de estudo formado por representantes da indústria, governo e academia. Serão feitos levantamentos sobre as oportunidades de negócios e investimentos em várias áreas, como tecnologia da informação e turismo. O assunto será levado aos outros países do Mercosul. A negociação não deverá ser fácil e poderá ser realmente concretizada se a discussão de um acordo entre Mercosul e União Européia e a da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) avançar.

Do lado brasileiro há resistências de setores como o eletroeletrônicos, telecomunicações e veículos. Do lado japonês há dificuldades na área agrícola. Este ano já entrou em vigor um acordo entre o país asiático e México e na lista de negociações de Tóquio estão ainda Coréia do Sul, Taiwan, Malásia e Austrália.

Apesar do protecionismo no agronegócio, até mesmo os exportadores de carnes estão otimistas. O Brasil não consegue vender carne bovina e suína in natura para os japoneses devido à febre aftosa em algumas regiões. Pedro Camargo Neto, da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne Bovina (Abiec), afirma que em razão da ocorrência do mal da vaca louca no Japão e da gripe do frango na Asia, há algum tempo o país está olhando a questão brasileira com outros olhos. E diz que o que se indica aos japoneses é que o objetivo não é prejudicar as empresas locais, mas substituir a origem de importações.

Toda vez que falou com os empresários, o governo e até com o parlamento japonês, Lula tentou passar a imagem de que o Brasil é um investimento seguro. No Parlamento, Lula deixou claro o motivo de sua visita, afirmando querer que o Brasil volte a ser destino preferencial de investimentos japoneses. O país asiático, já há algum tempo tem foco grande na China.

- O Brasil é um bom lugar para investir. A economia está estabilizada, crescendo e a inflação está sob controle - disse Ken Wakazuki, gerente geral da divisão de Negócios Estrangeiros da Toyo Engineering, parceira da Petrobras na construção de dutos.