Título: Uma empresa bem-sucedida
Autor: Horacio Aragones Forjaz
Fonte: Jornal do Brasil, 25/10/2004, Outras Opiniões, p. A-11

artigo de Sérgio Alberto de Castro, coronel R1 do Exército, publicado no dia 17/10 no JB, merece algumas ponderações. A Embraer, uma das maiores fabricantes de aviões comerciais do mundo, resulta de um plano estratégico bem-sucedido, implementado pelo governo brasileiro a partir das décadas de 1940 e 1950, com a criação do Centro Técnico Aeroespacial e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Privatizada em 1994, a empresa orgulha-se de continuar sendo o braço tecnológico-industrial aeroespacial da nossa defesa, a fabricante de mais da metade das aeronaves operadas hoje pela Força Aérea Brasileira.

A atuação da Embraer no desenvolvimento do AM-X, das aeronaves do Sivam, do ALX Super Tucano e na modernização dos caças F-5 da FAB permitiu atingir a capacitação necessária para responder ao desafio do F-X BR. O desdobramento dessas tecnologias contribuiu para o desenvolvimento de outras aeronaves, como a família ERJ 145 e a nova família de jatos Embraer 170/190, fazendo da Embraer a única empresa no hemisfério sul a dominar o ciclo completo de concepção, desenvolvimento, certificação, produção e suporte de aeronaves de alta tecnologia. Esse contínuo envolvimento assegura a perenidade e a evolução de novas tecnologias, absorvidas em processos de transferência.

O sucesso mundial dos jatos comerciais da Embraer, a recente escolha de nossas aeronaves pelo exército dos EUA, no Programa ACS, em concorrência contra a americana Gulfstream, a venda de aviões-radar AEW&C à Grécia, um membro da Otan, são exemplos que demonstram nosso nível tecnológico. Utilizamos motores, computadores e outros equipamentos dos principais fornecedores especializados no mundo, do mesmo modo que fazem outros grandes fabricantes, como Airbus, Boeing, ou Bombardier, além de sermos um dos poucos fabricantes de trens de pouso e equipamentos hidráulicos para aviões, através de nossa subsidiária Eleb, aqui mesmo no Brasil, uma parceria com a alemã Liebherr. Somos integradores de sofisticados sistemas e nossos 3.500 engenheiros nos garantem importante vantagem competitiva.

O Mirage 2000 BR, oferecido pelo consórcio liderado pela Embraer, nada tem a ver com o glorioso Mirage III, que opera na FAB há mais de 30 anos. É sim o mais novo membro da família Mirage 2000-5 Mk2, com aeronaves agora sendo entregues aos Emirados Árabes Unidos e à Grécia, onde começará a operar em conjunto com os EMB-145 AEW&C fabricados pela Embraer. Esta mesma versão do Mirage 2000 está sendo oferecida à Índia, em uma concorrência para mais de 100 unidades. Os Mirage 2000 estão em operação em oito países, incluindo a França, onde continuarão constituindo a espinha dorsal da força aérea, por pelo menos outros 20 anos.

Com a combinação do melhor radar em sua classe, dos excepcionais mísseis MICA e do sistema digital de guerra eletrônica, sobre uma plataforma robusta, confiável e com mais de 600 unidades vendidas, o Mirage 2000 BR tem capacidade operacional sem concorrência e atende integralmente às necessidades da FAB.

Não há restrições à transferência das tecnologias sensíveis da aeronave completa, seja aquelas referentes à aeroestrutura, seja a aerodinâmica dos aviões supersônicos, sistemas eletrônicos, software (inclusive códigos-fonte) para a Embraer e para a FAB. Isso assegura a mais completa autonomia à FAB para operar e manter a aeronave e integrar quaisquer armamentos e sensores, independentemente de constrangimentos políticos e estratégicos.

Por todas essas razões, em uma coisa, concordamos com o coronel Castro: o presidente Lula, bem assessorado por seus ministros e pela Força Aérea, já deve ter hoje a clara visão da melhor alternativa para o Brasil e a FAB. Por isso, compartilhamos com ele a expectativa de uma breve decisão, confiantes na vitória da solução que desenvolvemos com profissionalismo e dedicação, o que haverá de agregar à Embraer competitividade internacional, gerando empregos e riqueza para o país