Título: Lula contra a ''pena de morte na política''
Autor: Fernando Exman e Kelly Oliveira
Fonte: Jornal do Brasil, 09/07/2005, País, p. A2

Em clima de festa, parecendo até que a reforma ministerial deflagrada não foi motivada por uma crise política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou ontem a cerimônia de posse dos novos ministros das pastas de Comunicação, Minas e Energia e Saúde. Além de saudar os novos ministros e homenagear os substituídos, Lula mandou dois importantes recados: encerrará a reforma segunda-feira ou terça-feira e o ministro da Secretaria de Comunicação e Assuntos Estratégicos, Luiz Gushiken, só deixará o cargo se quiser. - Estou dizendo isso para acabar com os boatos. Não podemos a qualquer insinuação contra um companheiro, achar que ele é culpado. Quem fizer acusações precisa provar porque se não as ilações tomarão conta da política nacional - disse o presidente, referindo-se às acusações de que Gushiken estaria relacionado ao aumento do faturamento da empresa da qual era sócio, a Globalprev, e que uma revista editada por um irmão dele teria sido beneficiada por anúncios do governo.

- Se nasci contra a pena de morte, porque vou ser favorável à pena de morte na política?.

O presidente confirmou oficialmente o nome de Luiz Marinho para o ministério do Trabalho, em substituição a Ricardo Berzoini, que volta à Câmara, como antecipou a coluna Boechat. Lula confirmou ainda a intenção de afastar da Esplanada os ministros que pretendem disputar as eleições de 2006.

Além do bom humor do presidente, a cerimônia foi marcada também pela presença da ala do PMDB que apóia o governo. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sentou-se ao lado dos novos e ex-ministros, logo atrás do púlpito de onde Lula discursou. O senador José Sarney (PMDB-AP), outro grande aliado do presidente Lula, também esteve presente à cerimônia.

Em discurso, Lula disse que o ex-ministro da Saúde, Humberto Costa, que tem pretensões eleitorais, terá seu trabalho medido pelos brasileiros. Ao novo ministro, Saraiva Felipe, disse que ele tem como tarefa dar continuidade aos programas do governo.

Ainda em relação à Saúde, Lula revelou a intenção de criar políticas públicas para o planejamento familiar e o incentivo a exercícios físicos. O presidente disse ainda que pretende levar adiante o projeto de exigir que as indústrias farmacêuticas coloquem à venda medicamentos a granel.

Sobre o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, Lula afirmou que ele não foi nomeado porque foi indicado pelo PMDB ou porque é de seu círculo de amizades, mas porque é um técnico de carreira do setor elétrico e tem a confiança da ex-ministra de Minas e Energia Dilma Rouseff.

- O Silas está sendo guindado pela sua competência profissional - afirmou o presidente.

Em relação ao ex-ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, Lula afirmou que poucas vezes o Brasil teve um ministro que se dedicou de tal maneira à área e destacou a competência do novo ministro, Helio Costa.

No fim do discurso, Lula desejou boa sorte aos ministros que deixaram os cargos.

- Estaremos juntos em algum lugar. Não sei se em algum palanque. A vocês que estão ficando, temos muita coisa a fazer nesses 16 meses que ainda faltam.

A nova etapa da reforma que será anunciada por Lula deve incluir as estatais. A reforma deve substituir políticos por técnicos e o ministro Silas Rondeau poderá ainda fazer alterações na direção das estatais vinculadas ao ministério de Minas e Energia. Rondeau, no entanto, afirmou que ainda não sabe quem indicará para o substituir na Eletrobrás, empresa que até então era o presidente.

O presidente da Petrobrás, José Eduardo Dutra, deve estar na lista dos dirigentes de estatais que deixarão os cargos na próxima etapa da reforma. Dutra disse que informou ao presidente Lula que deseja ser candidato ao Senado em 2006.

- Conversei com o presidente e disse que minha vontade é ser candidato.

Questionado se assumiria presidência do PT, Dutra afirmou que não foi sondado para a tarefa, e é mais difícil ser presidente do PT do que da Petrobrás.