Título: Um dia com jeito de sexta-feira 13
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Fonte: Jornal do Brasil, 09/07/2005, País, p. A3
Ontem foi mais um dia negro para o Partido dos Trabalhadores. A cúpula partidária tentava estancar outra crise com a revelação de que Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão, avalizou o PT em outro empréstimo, de R$ 3 milhões, no Banco Rural, quando estourou a informação de que agentes da Polícia Federal prenderam, em São Paulo, um assessor do irmão do presidente nacional do PT, José Genoino - que é deputado estadual no Ceará - com uma mala com quase meio milhão, em reais e em dólares. Os agentes detiveram o assessor parlamentar José Adalberto Vieira da Silva, 39, com R$ 200 mil em uma valise e US$ 100 mil (R$ 240 mil) presos ao corpo, na cueca. Adalberto trabalha para o deputado estadual cearense José Nobre Guimarães (PT), irmão de Genoino, e membro do Diretório Nacional do partido. Segundo a PF, os R$ 200 mil na maleta de Adalberto foram flagrados pelo aparelho de raios X do aeroporto.
Adalberto explicou que os R$ 200 mil eram pagamento de verduras que havia vendido na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo), porque era agricultor. Os agentes, no entanto, o revistaram e encontraram mais US$ 100 mil escondidos dentro da cueca. Depois disso, Adalberto disse que só falaria sobre a origem do dinheiro em juízo.
Adalberto embarcaria para Fortaleza, em um vôo com escala em Brasília, foi preso por violar a legislação relativa aos crimes contra o sistema financeiro. Conforme as normas do Banco Central, para circular com dólares dentro do país há a necessidade de comprovação, com documentos, de que o dinheiro foi comprado em instituição autorizada.
Entre os pertences de Adalberto apreendidos está uma agenda do Partido dos Trabalhadores em comemoração aos 25 anos do partido, completados este ano.
A prisão ocorre em meio à crise do mensalão, esquema denunciado pelo deputado Roberto Jefferson que envolveria transporte de dinheiro em espécie em malas para a compra de deputados.
José Nobre Guimarães, que estava em São Paulo para a reunião do Campo Majoritário do PT, confirmou que Adalberto é seu assessor na Assembléia Legislativa no Ceará, mas alegou desconhecer os motivos da prisão.
- Ainda estou averiguando tudo o que aconteceu. Não sei o que houve - disse, ao ser perguntado sobre o dinheiro que o assessor tentava transportar.
Adalberto é assessor no gabinete de Guimarães desde 2001. Antes disso, em 2000, disputou uma vaga a vereador no município de Aracati (a 140 km de Fortaleza), pelo PT. Obteve apenas 215 votos, o equivalente a 0,69% dos eleitores da cidade.
O irmão de Genoino é um dos principais nomes do PT cearense. É líder da tendência petista Campo Majoritário no Estado. No segundo mandato de deputado estadual, ele é líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa e não esconde a pretensão de disputar uma vaga de deputado federal no próximo ano. No Ceará, Guimarães é sempre o porta-voz e principal defensor das decisões do Diretório Nacional.
Pela manhã, o PT admitiu, em nota divulgada pela Secretaria de Finanças e Planejamento do partido, que Marcos Valério foi avalista da legenda em dois empréstimos junto a bancos. Segundo a nota, em 17 de fevereiro de 2003, o PT solicitou empréstimo de R$ 2,4 milhões ao BMG, onde foram avalistas o presidente do PT, José Genoino, o então secretário de Finanças e Planejamento, Delúbio Soares, e o Marcos Valério.
O PT informou ainda no dia do último aditamento do contrato, em 21 de fevereiro de 2005, Valério deixou de ser o avalista do contrato. O último aditivo de Confissão de Dívida, no valor de R$ 2.901.168,00, vencerá dia 22 de agosto, quando o partido deverá efetuar o pagamento do empréstimo junto ao BMG e também o pagamento do empréstimo de Marcos Valério, no valor de R$ 351.508,20, acrescido de juros e correção monetária.
No dia 14 de maio de 2003, diz a nota, o PT solicitou empréstimo de R$ 3 milhões ao Banco Rural, onde foi avalista Delúbio Soares. No entanto, como o banco exigiu mais um avalista, Marcos Valério concordou em dar essa garantia.
Segundo o PT, já na primeira renovação, Valério deixou de ser o avalista do contrato. No lugar dele, passou a assinar como avalista o presidente do PT. A nota diz ainda que o partido não solicitou empréstimo ao Banco do Brasil. Segundo o documento, o PT fez um leasing no valor de R$ 20 milhões para a aquisição de computadores e softwares e os próprios computadores são a garantia do contrato. O PT também possui, com este banco, um crédito rotativo de R$ 3,5 milhões.