Título: Empresas se preparam para o Natal
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 25/10/2004, Economia & Negócios, p. A-17

Maior pólo de distribuição do país, Uberlândia, no Triângulo Mineiro, começa a emitir os primeiros sinais da movimentação de fim de ano. A cidade é sede dos cinco maiores atacadistas do Brasil: Martins, Arcom, Peixoto, União e Aliança, além de abrigar inúmeras médias e pequenas empresas de frota terceirizada. Nas próximas semanas o Martins Atacadista, o distribuidor de maior porte da América Latina, receberá 320 novos caminhões, uma compra de R$ 28 milhões que elevará a sua frota própria para 2 mil veículos de carga. A aquisição dos 320 caminhões faz parte de um investimento de R$ 50 milhões que o grupo fará em 2004 e 2005 como forma de se manter na liderança no negócio que compreende da distribuição ao comércio varejista. Somente este ano, o crédito dado pelo Martins aos pequenos comerciantes de lojas de vizinhança soma R$ 100 milhões em operações feitas pelo Tribanco, o banco de fomento do atacadista.

- Não estamos preocupados com os juros altos ou com dados que afetem a economia. Temos vocação para investir e vamos investir em tecnologia - afirmou o diretor-presidente do Martins, Alair Martins do Nascimento. O grupo, formado pelo Martins Atacadista, Farma Service e Tribanco, projetou uma taxa de crescimento superior a 15% para 2004. Em 2003, o faturamento atingiu R$ 2,3 bilhões, sendo que somente as atividades do atacado representaram R$ 2,03 bilhões do total das receitas.

Com cinco mil funcionários, 42 centros de distribuição e 11 mil itens em seu catálogo de vendas, o Martins Atacadista possui 200 mil clientes no comércio varejista distribuídos pelo território nacional. A empresa distribui desde vasos sanitários, enxadas e ferramentas para agricultores, a computadores, celulares e aparelhos de DVD.

Com 50 anos de know- how na entrega de mercadorias, nos mais distantes grotões e em todas as épocas do ano, a empresa não sente as pressões sazonais de consumo. A logística de distribuição do fim do ano já foi organizada e deverá ocupar de forma plena a frota própria.

Os 320 caminhões que foram encomendados à Volkswagen e à Mercedes-Benz fazem parte da estratégia de ampliar a frota permanente. A encomenda, segundo o diretor-presidente do grupo, levou a Volkswagen a implantar um terceiro turno na linha de montagem dos veículos. Mesmo com uma frota de 2 mil caminhões, o Martins não descarta a possibilidade de vir a contratar frota terceirizada para as entregas programadas para novembro e dezembro.

O crescimento do grupo, acredita Alair Martins, reflete em grande parte o avanço dos pequenos negócios.

- O sucesso do atacado depende do sucesso do pequeno varejista e esse pequeno comerciante está se profissionalizando, tem melhorado as lojas e está comprando um mix mais variado de produtos - comentou.

A Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad) calcula que, no acumulado do ano, as lojas de vizinhança registraram uma expansão real de 8% em comparação a igual período do ano passado.

Um indicador da melhora do ambiente para os pequenos comerciantes é dado pelo Tribanco, banco de fomento exclusivamente direcionado a clientes com esse perfil. Com 80 mil clientes diretos, possui uma carteira de ativos de R$ 600 milhões, sendo R$ 500 milhões em ativos de crédito. De acordo com Alair Martins, somente este ano o volume de créditos novos somou R$ 100 milhões. As operações estão concentradas no capital de giro, com empréstimos médios entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.

Empresário bem sucedido que iniciou os negócios em 1953 com uma mercearia em Uberlândia, Alair Martins disse que os investimentos do grupo não se pautam pelas incertezas da macroeconomia. Mas uma reclamação ele não esconde: as más condições das estradas. E faz críticas ao uso da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), criada para recuperar as estradas e que incide sobre a venda de combustíveis.

- Setenta e quatro porcento das estradas estão arrebentadas e isso é o ''Custo Brasil''. Os recursos recolhidos com a Cide não estão sendo aplicados nas finalidades previstas pelo tributo - lamentou.

Entre janeiro e setembro deste ano, o governo federal arrecadou R$ 5,77 bilhões com a cobrança da contribuição. A preocupação é maior no fim do ano, quando o maior fluxo de veículos de carga nas rodovias coincide também com o período das chuvas.