Título: Educação como solução ambiental
Autor: Reynaldo de Barros
Fonte: Jornal do Brasil, 09/07/2005, Outras Opiniões, p. A13

Hoje, no Brasil, educação ambiental parece significar apenas visitas de grupos de crianças ou adolescentes a uma área de preservação que, acompanhados de um guia e/ou educador, aprendem sobre as peculiaridades da região e o ecossistema. No entanto, o que se espera das futuras gerações é que seu conhecimento ambiental vá muito além de saber quantas espécies de plantas ou animais vivem numa determinada região, conhecer o conceito da biodiversidade ou ter noção do potencial econômico que a natureza pode nos oferecer.

É necessário que as pessoas entendam que a conscientização ambiental não pode ser uma campanha isolada para salvar as baleias ou o mico-leão-dourado, mas que esse conceito diz respeito à responsabilidade que cada um de nós tem no cotidiano. E, talvez, o lixo e o seu destino deva ser a nossa mais importante preocupação diária. Afinal, cada grama de lixo e dejeto que produzimos significa ações nocivas ao meio ambiente.

Imaginem se essa consciência ambiental já fosse comum entre os cariocas, por exemplo. Certamente, o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara não seria necessário ou, pelo menos, teria uma abrangência muito menor. Afinal, o lixo gerado pela população é um dos principais problemas da bacia da Baía de Guanabara, causando danos como focos de proliferação de doenças, contaminação do solo, poluição das águas superficiais e subterrâneas e obstrução dos sistemas de drenagem.

Para se ter uma idéia do poder da influência do lixo, das quase 13 mil toneladas/dia geradas nessa região, cerca de 4 mil toneladas não são coletadas e acabam em terrenos baldios, rios e canais. Além disso, das 9 mil toneladas/dia que são coletadas, 8 mil toneladas vão para o aterro de Gramacho, cuja vida útil já está esgotada. Se as pessoas despejassem seu lixo com cuidado, a situação da baía estaria muito melhor. E esse tipo de consciência poderia significar uma considerável economia de tempo e dinheiro. Afinal, após dez anos do inicio do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, o saldo é que, entre as 53 praias da baía, 92% estão poluídas e apenas 8% são próprias para banho. Animais como tartarugas marinhas, siris e até golfinhos, que eram tão comuns há 30 anos, já não freqüentam mais o local. Além disso, o gasto com esse programa já atinge os R$2,3 bilhões - quase 80% dos recursos - sem apresentar resultados.

Seria, então, muito mais simples agir na profilaxia do meio ambiente, ou seja, não produzir lixo ou dar o correto destino para ele e, assim, não ter que consertar os danos. Caso de Belo Horizonte que, com 2,5 milhões de habitantes, cerca de 3.800 toneladas diárias de resíduos sólidos e 90% da população recebendo algum tipo de serviço de coleta e limpeza urbanas, é um grande centro brasileiro a desenvolver um programa de coleta seletiva.

Então, o que se espera de uma educação ambiental eficaz é a criação de estruturas didáticas pelas quais as pessoas percebam o seu grau de responsabilidade para que passemos a agir adequadamente, não apenas durante a visita aos parques e reservas, mas no dia-a-dia.

Produzindo menos lixo, praticando reciclagem, gerando menos calor, evitando desperdícios e, o mais importante, formando cidadãos que, após ingressar no mercado de trabalho, tenha condições de tomar decisões que ajude ao máximo preservar os recursos do planeta.