Título: Junho fecha com deflação de 0,02%
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Fonte: Jornal do Brasil, 09/07/2005, Economia & Negócios, p. A22
Pela primeira vez em dois anos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza as metas de inflação do governo, registrou deflação em junho. A taxa ficou em 0,02%, após alta de 0,49% em maio. A informação é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A última vez que o indicador oficial ficou abaixo de zero foi em junho de 2003 (-0,15%). O resultado, porém, não foi decorrente do aperto monetário implementado pelo Banco Central, que elevou em nove meses a taxa básica de juros de 16% para os atuais 19,75% mas da taxa de câmbio em queda e da normalização da safra.
No ano, o IPCA acumula alta de 3,16%. Os maiores culpados da inflação no semestre são os preços administrados - tarifas e combustíveis -, que responderam por um terço da elevação dos preços no período.
Em junho, porém, vários itens investigados apresentaram deflação em junho. Gasolina (-1,51%) e álcool (-8,79%) ficaram mais baratos devido à redução da cotação da cana-de-açúcar e da concorrência entre postos de combustíveis. No grupo alimentação e bebidas houve queda de 0,67% graças ao aumento na oferta de várias lavouras. Os destaques foram a batata-inglesa (-18,74%), a cenoura (-16,89%) e o tomate (-10,79%).
A ausência de reajustes significativos de preços administrados e tarifas públicas também ajudou a conter o IPCA, segundo o IBGE. Só o telefone fixo teve alta em junho (0,73%). Apesar do recuo, o instituto diz que não há sinais de que a deflação veio para ficar.
- Houve uma queda de preços forte e generalizada, mas não há sinalização de que essa seja a tendência dos próximos meses - disse Eulina Nunes dos Santos, gerente de Índices de Preços do IBGE. Os especialistas concordam:
- O dólar tem um papel importante, porque a cotação em queda derruba o preço de alguns produtos, mas houve também a normalização de alguns preços de alimentos que subiram muito por causa da quebra de safra e estão devolvendo parte da alta - disse Marcelo Cypriano, do BankBoston, que destaca ainda o fato de os preços livres, sobre os quais a política monetária exerce influência, terem ficado estáveis em junho, o que deve se repetir este mês.
O economista Carlos Thadeu de Freitas Filho espera que o IPCA feche o ano em cerca de 6% - o centro da meta oficial é de 5,1%, com tolerância de dois pontos para cima ou para baixo.
- Os núcleos estão em queda livre e a inflação está convergindo rapidamente para um patamar bem próximo à meta - explicou.
Apesar da forte desaceleração do IPCA e de outros índices de inflação, analistas acreditam que o Banco Central só deverá promover a redução da taxa Selic em setembro. Isso porque, segundo eles, persistem várias incógnitas: o preço do petróleo, o nível de atividade da economia e a intensidade da entressafra agrícola.